“A guitarra sempre foi o meu instrumento de preferência, mas ficou esquecida até agora”, conta Daniel Figueiredo, 50, autor de trilhas sonoras de novelas, séries e filmes da Record desde 2005.
Em meio à produção musical da novela "Jesus" e ao projeto da trilha para "Jezabel", a próxima série épica em 80 capítulos da emissora, com direção de Alexandre Avancini, o compositor está lançando seu primeiro disco. "Guitar Heroes", dedicado ao instrumento, tem a participação de Paul Gilbert, Kiko Loureiro, Scott Henderson, entre outros.
Se comparada a trilha sonora de "Jesus" com "Guitar Heroes", pode-se dizer que Figueiredo consegue transitar bem entre o céu e o inferno, não em termos de qualidade musical, mas das características intrínsecas de cada estilo, do que remete ao bíblico e ao profano.
As participações dos guitarristas convidados já estão prontas, como a de Larry Coryell, um dos pais do gênero jazz fusion, que morreu em fevereiro de 2017, pouco depois da gravação, e a quem o disco será dedicado.
“Desde 'Os Dez Mandamentos' eu tenho feito uma novela atrás da outra, além de outros projetos, então, como sou muito responsável, resolvo o problema de todo mundo e jogo o meu para depois”, diz, justificando o lançamento tardio do disco.
Nascido em Cataguases, interior de Minas Gerais, ele começou a estudar violão com 17 anos, mas nunca fez aula de música. “Descobri que tenho uma deficiência em aprender com o outro, ou com vídeo, livro, método, e isso é uma burrice, não é qualidade. Não curto onda dizendo que sou autodidata, pois pessoas como eu não aprendem de outra maneira”, explica.
Isso acabou levando-o a ter um estúdio. Começou no teclado, para tocar com sua banda em bailes, e teve que aprender sozinho 70 músicas em dois meses. “Foi na marra, mesmo, mas hoje eu me viro bem nesse instrumento.”
Ele aprendeu a compor de uma maneira também inusitada. Gravou vários minutos de um mesmo acorde e analisou quais as notas que combinavam com aquele acorde. “Era tipo inventar a roda.” Fez o mesmo com outros acordes. “Daí eu descobri o que é tonalidade." Gravava fitas cassete com suas composições, mas não fazia ideia de como conseguia chegar até ali.
Hoje, mora no Rio de Janeiro. O local que ele mais gosta de estar é em seu estúdio. As maiorias das trilhas bíblicas é gravada com "samplers" de orquestras, pela agilidade da produção e o custo mais baixo.
“Tenho chips diferentes de acordo com cada diretor com quem trabalho. Com Alexandre Avancini, em especial, mudo meu chip de acordo com o chip dele, porque ele também tem vários chips”.
Uma curiosidade do diretor da Record é o fato de ele não gostar de guitarras distorcidas, ao contrário de seu produtor musical. “Mas eu sou uma ferramenta, busco satisfazer o diretor, o autor, a empresa.”
Daniel nunca sentiu a necessidade de se aproximar de nenhuma religião e diz que foi intuitivo esse modo de compor que emociona os evangélicos. “Eu trabalho muito com a emoção, quero saber o que vai emocionar.”
Ele crê que o produtor musical é como uma espécie de big data. “Temos muita informação para ser processada e para dar um resultado estatístico. Nosso cérebro fica captando informação e joga, já pronto, um caminho a ser seguido. Na verdade, não é uma intuição nem uma coisa do além."
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