cr�tica: Autobiografia de Wanderl�a � corajosa, mas deixa lacunas
Bruno Poletti - 28.ar.2017/Folhapress | ||
Wanderl�a, que escreveu a autobiografia 'Foi Assim' |
FOI ASSIM (bom)
AUTORA Wanderl�a (pesquisa e edi��o de Renato Vieira)
EDITORA Record
QUANTO R$ 39,90 (390 p�ginas)
*
Wanderl�a reproduz na foto da capa de sua autobiografia, "Foi Assim", a imagem que a maioria das pessoas t�m dela: a de uma mulher esfuziante, bem resolvida, "inteira�a" aos 73 anos.
Mas � um prod�gio ela ter chegado inteira a esta idade, principalmente na alma. Sua vida foi marcada por trag�dias, e o contraste com o repert�rio pelo qual ficou famosa –repleto de can��es ing�nuas, a maioria alegres– n�o poderia ser maior.
Os percal�os j� come�am no primeiro cap�tulo do livro, escrito em parceria com o jornalista Renato Vieira. Wanderl�a conta que o acidente com seu ent�o noivo Jos� Renato Barbosa, o Nanato, foi um divisor de �guas em sua trajet�ria.
No feriado da Semana Santa de 1971, o rapaz, filho do apresentador Chacrinha (1917-1988), mergulhou de cabe�a na piscina da fazenda de amigos, e bateu a cabe�a no fundo. Ficou tetrapl�gico.
A cantora permaneceu ao lado dele por mais alguns anos, deixando a carreira em segundo plano para cuidar de Nanato. Mas este n�o foi nem o primeiro, nem o �ltimo momento dific�limo que ela teria que enfrentar.
Dois de seus oito irm�os (todos com nomes come�ados por "Wander") morreram ainda crian�as. A irm� Wanderlene, a Leninha, foi morta por uma bala perdida, aos 17 anos. E o irm�o Wanderbil, o "Bill", seu empres�rio e confidente, sucumbiu em decorr�ncia da Aids, em 1994.
Mas, segundo seu relato, nada foi pior do que a perda do filho Leonardo, em 1984. O garoto, que ainda n�o tinha tr�s anos, caiu na piscina da casa da artista sem que ningu�m percebesse, e se afogou.
A dor causada por esses epis�dios transborda do livro, cujos cap�tulos curtos raramente ultrapassam tr�s p�ginas. Wanderl�a emerge mais forte de cada um deles, e os c�us parecem compens�-la com per�odos de felicidade logo ap�s cada um desses golpes da vida.
Mas nem s� de tristeza � feito "Foi Assim". Tamb�m h� fofocas irresist�veis, como o relato do primeiro encontro com Roberto Carlos, em 1961. O futuro rei d� na Ternurinha, apelido que remete � m�sica "Ternura", aquele que seria o primeiro beijo na boca dela –e ainda por cima com o gosto da coxinha de frango que ele acabara de comer.
J� Erasmo Carlos tenta for�ar uma noite de amor assim que eles chegam a T�quio, em 1969, para as filmagens de "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa".
Se esse epis�dio tivesse ocorrido nos dias atuais, o cantor seria facilmente acusado de ass�dio sexual e provavelmente teria sua carreira interrompida. Mas a Wanderl�a de quase meio s�culo atr�s s� considerou que ele foi inoportuno. Nada que abalasse a amizade deles.
Com texto �gil e objetivo, "Foi Assim" � de leitura agrad�vel, e � de se admirar a coragem com que Wanderl�a exp�e seus dramas pessoais.
LIMITE DO SUCESSO
Mas ela mesma n�o sabe explicar porque sua carreira jamais repetiu o sucesso avassalador dos tempos da jovem guarda, em meados da d�cada de 1960.
Mesmo com elogios da cr�tica a diversos discos seus e lota��o esgotada em suas apresenta��es, ela n�o atingiu o mesmo patamar que algumas de suas contempor�neas, como Elis Regina (1945-1982), Rita Lee ou Gal Costa.
A jovem guarda, movimento formado por nomes como Roberto Carlos, Erasmo, Wanderl�a, Eduardo Ara�jo e Ronnie Von, era tachada de alienada por boa parte da esquerda � �poca.
Para Wanderl�a, havia sim atua��o pol�tica no movimento, mas de forma distinta. A ditadura contra a qual ela e seus amigos cabeludos se insurgiam, diz, era a familiar.
De qualquer maneira, n�o � pouco ter sido a "Rainha da Juventude" brasileira numa �poca em que o mundo inteiro parecia estar se reinventando. Mas Wanderl�a foi al�m desse e de outros r�tulos. "Foi Assim" � um autorretrato sincero, do�do e engra�ado ao mesmo tempo.
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