Filme da Mulher-Maravilha faz retrato preciso de feministas modernas
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A israelense Gal Gadot vive a hero�na no filme de Patty Jenkins e luta ao lado de homens na guerra |
"Mulher-Maravilha" deve se tornar hoje o filme com a maior bilheteria mundial dirigido s� por uma mulher. Mas ap�s tr�s semanas em cartaz percebe-se que, na leitura do p�blico mais engajado, que contava com esse refor�o da aliada do movimento feminista, o longa de Patty Jenkins ficou devendo resposta � altura do que se esperava da personagem.
O descontentamento de parte da exigente audi�ncia come�ou ap�s a divulga��o do p�ster e trailer com a hero�na (Gal Gadot) de axilas depiladas. O exagero do Photoshop s� se equipara ao excesso de patrulha na reclama��o.
A expectativa era grande, claro, afinal � a primeira vez que a personagem, criada em 1941, � protagonista no cinema, num momento em que o feminismo ressurgiu com pautas t�o necess�rias e que se fazia urgente uma hero�na no meio de tantos filmes com salvadores do mundo do sexo masculino.
O longa, mesmo festejado, recebeu cr�ticas pela representa��o do feminismo. Uma foi a de que a natureza individual da hero�na � caracter�stica de her�is machos, e que o �nico caminho para uma mulher avan�ar no "mundo masculino" seria a coletividade.
Ainda que os movimentos organizados sejam essenciais para conquistas, as maiores mudan�as s� ser�o poss�veis por meio do que chamo de revolu��o individual da mulher, exatamente o que a hero�na faz.
O filme retrata o melhor do feminismo moderno. Consciente da capacidade, proativa e assertiva. Decide o que quer ser, apesar da resist�ncia da m�e, age independentemente do cen�rio masculino, se relaciona com homens de igual para igual, trata o sexo com o mocinho com a esperada naturalidade, sem neuras, passividade e romantismo exagerado.
Reclamam que MM tem poderes gra�as a Zeus, um homem, o que enfraquece o empoderamento esperado numa mulher. � poss�vel fazer leitura menos contestat�ria. A de que ele reconhece a igualdade entre os g�neros ao transformar Diana, amazona mortal, numa deusa poderosa, a �nica capaz de salvar o mundo.
Outro personagem que causou rea��o foi a vil�, retratada, segundo uma cr�tica, como cientista perversa, como se mulheres inteligentes s� usassem o poder para o mal.
Quadrinhos est�o cheios de vil�es de ambos os g�neros, e quase sempre s�o eles os de pior car�ter. E n�o d� pra exigir sororidade s� porque a mocinha do filme � mulher.
H� centenas de guerreiras inteligentes, independentes e empoderadas em Themyscira, onde Diana foi criada e o ponto de partida da obra. N�o coincidentemente essa parte � tida como um dos melhores momentos por retratar a sociedade matriarcal do sonho de algumas feministas. N�o o meu.
N�o vivemos numa ilha habitada s� por mulheres. Temos que sobreviver em um mundo ainda bastante masculino, em que vil�es nos desafiam em forma de viol�ncia, desigualdade de oportunidades, preconceito, dupla jornada.
A melhor li��o da hero�na � que n�o d� para esperar que o mundo se transforme no que esperamos, temos que participar ativamente da mudan�a, cada uma com o seu papel, mesmo sem avi�o invis�vel, braceletes ou chicotinho da verdade. Na maioria das vezes ser� s� ignorando o machismo a nossa volta, como ela fez.
A HIST�RIA SECRETA
Ao analisar as circunst�ncias nas quais a personagem surgiu nos anos 1940, nos EUA, � dif�cil acreditar que uma personagem t�o feminista pudesse ter sido criada quando os direitos das mulheres come�avam a ser conquistados.
No livro "A Hist�ria Secreta da Mulher-Maravilha" (ed. Best Seller, 480 p�gs.), de Jill Lepore, professora de Hist�ria Americana na Universidade Harvard, o protagonismo da hero�na � dividido com o seu criador, o psic�logo William Moulton Marston, um sujeito esquisito e fascinante.
Ele, que pensou em suic�dio aos 18 anos, deve sua salva��o ao encontro com George Herbert Palmer, professor de filosofia e vi�vo de Emmeline Pankhurst, um dos maiores nomes do movimento sufragista americano.
Foi o in�cio da liga��o com o feminismo que culminou na Mulher-Maravilha, tr�s d�cadas depois, na Segunda Guerra. Era o momento prop�cio para o surgimento de uma mulher forte, independente, capaz de salvar o mundo, quando os homens lutavam fora do pa�s e abriram espa�o para a emancipa��o feminina.
Detalhes �ntimos de Marston foram as grandes inspira��es para os superpoderes. Criou o detector de mentiras, representado pelo la�o da verdade, e viveu um tri�ngulo amoroso muito antes do mundo falar em poliamor. Uma das mulheres usava braceletes.
O livro narra a evolu��o nas HQs. Roupas encurtaram, houve perda dos poderes nos anos 1960, na efervesc�ncia da revolu��o sexual, at� MM ser resgatada uma d�cada depois pela jornalista e ativista Gloria Steinem para voltar a ser a hero�na feminista que sempre foi.
A Hist�ria Secreta Da Mulher-Maravilha |
Jill Lepore |
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Nos anos 1970 e 1980, o movimento feminista "travou", �poca em que come�a um embate entre feministas radicais e liberais –o "trashing", fen�meno que vemos se repetir hoje, inclusive no Brasil.
MM ainda passou por muitas transforma��es visuais nas d�cadas seguintes, sempre seguindo o que era ditado pela opini�o p�blica. Mais m�sculos, mais decotes, menos roupas, mais mulher-objeto e menos hero�na, at� perceberem que o mundo precisa mais de mulheres poderosas do que de tchutchucas. Como podemos conferir no filme, Marston ficaria orgulhoso da vers�o feminista de sua hero�na, no s�culo 21.
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