Filha de Olga Benario narra morte da m�e a partir de arquivo da Gestapo
"A descoberta de novos documentos � sempre um acontecimento feliz para o historiador, pois lhe permite completar, aprofundar e corrigir os conhecimentos sobre o tema por ele pesquisado."
A frase com que a historiadora Anita Leocadia Prestes, 80, abre sua obra mais recente define o crit�rio de objetividade com que ela procura se debru�ar sobre um tema hist�rico que lhe � profundamente pessoal: o assassinato de sua m�e, Olga Benario Prestes, pelo regime nazista.
Os documentos a que ela se refere vieram dos arquivos da Gestapo, a pol�cia secreta do Terceiro Reich alem�o, e dizem respeito aos quase seis anos (1936-1942) em que Olga ficou sob o poder dos nazistas, at� ser executada em um c�mara de g�s, aos 34 anos.
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A militante comunista Olga Benario Prestes |
Apreendidos pelos sovi�ticos ap�s o fim da Segunda Guerra e disponibilizados on-line em abril de 2015, foram a base para que a autora escrevesse a rec�m-lan�ada biografia "Olga Benario Prestes - Uma Comunista nos Arquivos da Gestapo".
"Ainda em 2015 fui avisada por um historiador alem�o, meu conhecido, da abertura do arquivo da Gestapo na internet", diz a autora � Folha, por e-mail. "Como a maior parte dos documentos est� em alem�o, contei com a colabora��o de v�rios professores para a sua tradu��o, cujo conhecimento me motivou a escrever esse livro."
A vida da judia comunista entregue ao regime de Hitler pelo governo de Get�lio Vargas j� havia sido tema de uma alentada biografia escrita por Fernando Morais e lan�ada em 1993 -depois adaptada para o cinema, em 2004.
Anita Leocadia diz que seu livro � "uma complementa��o" daquele e, nesse sentido, passa rapidamente pelos principais epis�dios da vida de sua m�e at� sua pris�o pela pol�cia de Vargas em abril de 1936 e sua extradi��o para a Alemanha, mesmo gr�vida, cinco meses depois.
O novo livro centra-se nos anos que Olga Benario passou sob poder dos nazistas. A quantidade de registros oficiais que as autoridades do Reich produziram sobre a prisioneira mostra a import�ncia que atribu�am � "comunista obstinada e astuta".
S�o oito dossi�s (cerca de 2.000 folhas) que a autora cogita ser "a cole��o mais abrangente de documentos sobre uma �nica v�tima do fascismo". Destacam-se no material as correspond�ncias trocadas entre Olga e sua fam�lia, num total de 55 cartas.
"Os novos documentos confirmam o que j� sab�amos a respeito da minha m�e: sua inaudita coragem e intrepidez revolucion�ria. Ela jamais delatou algu�m, jamais abandonou seus compromissos de comunista convicta."
A papelada agora revelada tamb�m confirma algo de que Anita Leocadia j� tinha ci�ncia: o desinteresse da m�e de Olga, Eugenie Benario, pelo destino de sua filha e de sua neta, por conta da liga��o dela com o comunismo.
"Muitos anos depois daqueles acontecimentos, tive contato com alguns primos distantes que me procuraram, mas os parentes pr�ximos, a av� Eugenie e o tio Otto, morreram em 1943, como tantos outros judeus, em campos de concentra��o", conta a autora.
AUTOBIOGRAFIA
Conclu�da a obra sobre sua m�e, Anita Leocadia diz estar agora dedicada a escrever suas pr�prias mem�rias, que ela v� como "um complemento v�lido" � biografia de seu pai que ela publicou em 2015 ("Luiz Carlos Prestes: Um Comunista Brasileiro", ed. Boitempo).
"Em certa medida, se justifica pelo fato de, durante a minha j� longa trajet�ria de vida, ter enfrentado as vicissitudes das persegui��es movidas contra meu pai e nossa fam�lia", afirma.
Ela pretende narrar os "momentos hist�ricos conturbados" por que passou e que a for�aram a longos per�odos no ex�lio.
Olga Benario Prestes |
Anita Leocadia Prestes |
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"Fui processada e condenada pelos tribunais militares da ditadura, tive os direitos pol�ticos cassados, fui anistiada e acompanhei meu pai nos embates internos do PCB, partido em que cheguei a ser dirigente e do qual me afastei junto com Prestes."
A historiadora diz ainda que sua mem�ria guarda "o registro de m�ltiplos acontecimentos in�ditos e fatos pouco conhecidos ou falsificados pelos meios de comunica��o a servi�o dos interesses dos donos do poder".
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