Onda de abertura de museus e galerias p�e Lisboa no mapa da especula��o
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Vista do Maat, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, desenhado por Amanda Levete em Lisboa |
No �ltimo andar de uma torre envidra�ada, o Tejo a deslizar l� fora num azul cobalto �quela altura da tarde, uma galerista e um colecionador jogam pingue-pongue.
O cen�rio da partida, momentos antes de um banquete numa capital portuguesa l�dica e quase p�s-crise, � a sede da EDP, uma das maiores empresas de Portugal, que financiou a constru��o do espalhafatoso Maat, o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia ali perto, e tamb�m a ArcoLisboa, uma feira de arte criada para aquecer um mercado que muitos j� dizem estar em ebuli��o.
N�o espanta que o antes t�mido cen�rio art�stico portugu�s, azeitado agora pelo bom entrosamento entre institui��es p�blicas e privadas, tenha vontade de se esbaldar enquanto a brisa sopra a favor de galerias e museus que abrem aos montes nas ruelas de pr�dios azulejados daqui.
"Lisboa � um porto seguro quando h� inseguran�a no resto da Europa", diz Pedro Gadanho, diretor do Maat, em sua sala � beira do rio. "� a �ltima capital europeia a ser descoberta e que ainda tem espa�o para onde crescer."
Enquanto ele fala, transatl�nticos apinhados de turistas deslizam diante da janela, adentrando uma Lisboa repaginada, que tem como mais novo cart�o-postal as curvas exageradas do museu inaugurado no ano passado.
Desenhado pela brit�nica Amanda Levete em forma de onda ou avalanche esbranqui�ada, o Maat se tornou uma aposta da cidade, que acredita poder atingir com ele um "miniefeito Bilbao", nas palavras de Gadanho.
"Tive a sorte de sair daqui quando toda a gente estava deprimida", conta o portugu�s que passou os �ltimos quatro anos � frente do departamento de arquitetura do MoMA, em Nova York. "Quando voltei, senti que a cidade estava em transforma��o, e que esse museu podia fazer parte dessa transforma��o."
'LISBOOM'
Outros, mais diretos, chamam essa metamorfose de "Lisboom". E, ao contr�rio das ru�nas p�s-industriais da cidade espanhola tornadas hype pelo Guggenheim de Frank Gehry, a capital portuguesa n�o depende s� de um museu.
Al�m do Maat, o Pritzker brasileiro Paulo Mendes da Rocha construiu o novo Museu Nacional dos Coches do outro lado da via que margeia o Tejo, e a dupla Aires Mateus, destaque da �ltima Bienal de Arquitetura de Veneza, criou a gigantesca sede da EDP, blocos brancos vazados que filtram a luz fulgurante do rio.
"Esse modelo come�ou em Bilbao, mas continua a ter import�ncia", diz Sara Ant�nia Matos, � frente dos centros culturais ligados � prefeitura lisboeta, um deles desenhado pelo tamb�m ganhador do Pritzker �lvaro Siza, um dos maiores arquitetos do pa�s.
"Sabemos que a arquitetura tem essa influ�ncia, e a nossa est� a ganhar relevo."
Mesmo estruturas antigas, como a Cordoaria Nacional, uma f�brica de cordas do s�culo 18, est�o no olho do furac�o. Durante a ArcoLisboa, feira que encerrou sua segunda edi��o na semana passada, o lugar se transforma numa plataforma de neg�cios, com galerias, em grande parte portuguesas e brasileiras, vendendo obras de artistas ainda estreantes em Portugal.
"� um mercado pequeno, mas com muito potencial", diz Jaqueline Martins, dona da galeria paulistana que leva seu nome e integrante do comit� de sele��o do evento comercial. "Tem uma vibe boa, mas com um pouco de exagero."
De fato, a feira � um fen�meno s� na superf�cie, j� que o mercado local n�o sustenta toda a oferta. Mas a crise tende a ser superada com a migra��o em massa de endinheirados que estabelecem em Portugal uma base de opera��es para toda a Europa, entre eles galeristas que levam artistas para criar em Lisboa e depois vendem suas obras em Madri, Roma e outras capitais do continente.
O italiano Matteo Consonni, por exemplo, abandonou a poderosa Franco Noero, galeria de Turim onde fez carreira, para abrir a Madragoa, min�scula –e charmosa– casa coberta de azulejos azuis e brancos no Bairro Alto.
"Quer�amos uma cidade com custos baixos", diz ele. "O mercado � mais lento, mas Lisboa � uma base perfeita."
Ou buc�lica. Os espanh�is da Maisterravalbuena abriram uma filial da galeria de Madri num beco cheio de marcenarias e oficinas mec�nicas em Alvalade, distrito industrial agora invadido por espa�os comerciais, resid�ncias art�sticas e centros culturais.
ERA DA ILUS�O
"� imposs�vel sobreviver s� com o mercado nacional, mas todo mundo est� vindo morar em Lisboa", diz Nuno Centeno, da Murias Centeno, uma das maiores galerias da cidade. "N�o � o fim da crise. � o in�cio de uma nova era, que sabemos que pode ser tamb�m o in�cio de uma ilus�o."
O lado B do "Lisboom", ali�s, j� d� as caras e preocupa os que veem uma capital antes pacata e melanc�lica se tornar uma "bolha que pode arrebentar", nas palavras da galerista portuguesa Vera Cort�s, ou num playground vazio.
"Sou muito cr�tico em rela��o a isso", diz Hugo Dinis, diretor do Museu Ateli� J�lio Pomar, uma institui��o p�blica da cidade. "� muito estranha essa transforma��o. Lisboa de repente � um novo destino, mas n�o podemos virar uma Disney, ou uma Veneza."
Jos� M�rio Brand�o, um dos donos da galeria Gra�a Brand�o, no entanto, v� os dois lados do fen�meno. "N�o � nenhum para�so, mas h� uma sensa��o de seguran�a. Est�o a abrir galerias, mas ainda n�o h� mercado em Lisboa. Devemos ultrapassar a crise. Vejo que h� luz no fim do t�nel."
O jornalista viajou a convite da ArcoLisboa.
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