Cr�tica
Cr�tica: Obra de Apollinaire calcada em Sade termina por tra�-lo
AS ONZE MIL VARAS (regular) Apollinaire
TRADU��O Let�cia Coura
EDITORA Iluminuras
QUANTO R$ 42 (144 p�gs.)
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Em 1907, antes de se consagrar como poeta e uma das vozes mais importantes do modernismo liter�rio franc�s, Guillaume Apollinaire (1880-1918) publicou sem assinatura uma narrativa er�tica chamada "As Onze Mil Varas", proibida na Fran�a at� 1970 e que ganha agora nova edi��o no Brasil.
Personagem da bo�mia parisiense, Apollinaire era divulgador e admirador do marqu�s de Sade, o devasso de fins do s�culo 18 que a intelectualidade francesa iniciava ent�o a revalorizar intensamente. Em esp�rito de brincadeira, produziu uma novela pornogr�fica que, calcada no papa da literatura libertina, termina por tra�-lo.
"As Onze Mil Varas" acompanha as aventuras de um autoproclamado pr�ncipe de fajuta nobreza, o romeno Mony Vibescu, que viaja pela Europa colecionando parceiros sexuais de ambos os sexos e todas as idades.
Vibescu � t�o insaci�vel quanto flex�vel. Sodomiza e � sodomizado com a mesma desenvoltura. Curte S&M, coprofilia, pedofilia –inclusive com um beb�– e assassinato. Todos os personagens com os quais cruza (o duplo sentido � bem-vindo) t�m inclina��es semelhantes. A maioria dos encontros carnais, mesmo os que acabam em morte, � consensual.
Antecipando clich�s da pornografia audiovisual que mal raiava no horizonte, o narrador tem pressa. Nenhum personagem vai al�m da garatuja e nenhum tempo � perdido com "clima".
O tom de farsa � intencional, mas o t�dio que emana do enfileiramento de atos de viol�ncia sexual –efeito que tamb�m assombra Sade– � um problema liter�rio, por produzir no leitor um entorpecimento que vai na contram�o tanto da excita��o quanto do esc�ndalo e do xeque-mate moral pretendidos.
No caso de Apollinaire, esse problema � atenuado pelo humor. O livro tem um jeit�o de chanchada que dispensa por completo as digress�es filos�ficas do marqu�s e passa longe de sua, digamos, severidade libertino-libert�ria.
Isso se evidencia j� no t�tulo, que no original brinca com a semelhan�a entre as palavras "verges" (varas) e "vierges" (virgens). Uma solu��o menos traidora em nossa l�ngua seria "vergas", adotada em Portugal. Mas "As Onze Mil Varas" � o t�tulo consagrado nas edi��es brasileiras.
A alma brincalhona da novela termina por limitar sua pot�ncia transgressiva. Sem "p�thos", a narrativa torna-se uma gincana de bizarrices que aspira a uma vit�ria quantitativa que n�o vem.
As Onze Mil Varas |
Guillaume Apollinaire |
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Dez anos ap�s a morte de Apollinaire e com ingredientes semelhantes, Georges Bataille daria � literatura er�tica francesa um livro muito mais profundo e perturbador, com personagens de verdade –"Hist�ria do Olho".
Como pe�a de humor negro, "As Onze Mil Varas" consegue, nos melhores momentos, divertir vagamente. Tem adeptos, como provam suas sucessivas reedi��es, mas � pouco mais que uma curiosidade biobibliogr�fica na carreira do poeta de "�lcoois".
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