an�lise
an�lise: Sucesso do Museu do Amanh� revela poder de espet�culo vazio
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
![]() |
||
Museu do Amanh�, projetado pelo espanhol Santiago Calatrava na zona portu�ria do Rio de Janeiro |
N�o espanta que o Museu do Amanh� tenha chegado ao Olimpo da bilheteria. Uma esp�cie de brom�lia esbranqui�ada fritando no calor do Rio, o pr�dio do "starchitect" espanhol Santiago Calatrava j� nasceu sob os holofotes na condi��o de joia mais vistosa do projeto de renova��o urbana da zona portu�ria carioca e ganhou f�lego �mpar com o maior evento esportivo do mundo.
Durante a Olimp�ada, a esplanada em torno dele e seu dram�tico espelho d'�gua viraram cen�rios perfeitos para selfies de f�s e atletas, casando com a l�gica de espet�culo e entretenimento por tr�s do chamado Porto Maravilha.
Essa estrat�gia n�o � nova. Desde a d�cada de 1990, quando Frank Gehry inaugurou o emaranhado met�lico que abriga a filial do Guggenheim em Bilbao, na Espanha, museus se tornam pedra de toque de processos que urbanistas mais ing�nuos chamam de "revitaliza��o", como se tecidos urbanos estivessem condenados a necrosar sem esses pr�dios espalhafatosos.
N�o est�o, mas acabam virando do avesso, para a felicidade da especula��o imobili�ria, quando uma vizinhan�a ganha algo do tipo.
Tr�s anos atr�s, o mesmo Gehry fez uma esp�cie de caravela de vidro para a Funda��o Louis Vuitton num bairro mais pacato de Paris, que h� quatro d�cadas viu seu cora��o bater mais forte com os tubos de vidro do Pompidou de Renzo Piano e Richard Rogers –o espanto inicial agora se traduz em filas na porta.
N�o � de todo ruim, mas museus ancorados no espet�culo pouco acrescentam � cultura quando se preocupam mais em aparecer no Instagram do que em construir acervos e mostras relevantes.
Em termos de conte�do, o Museu do Amanh� n�o pode ser comparado a institui��es como o Guggenheim e o Pompidou, mas seu sucesso diante dos n�meros mais modestos de seu vizinho, o Museu de Arte do Rio, revela o poder de fogo do show pelo show.
No af� de bater metas de p�blico, muitos museus se deixam seduzir pela facilidade de uma programa��o blockbuster, caso do Museu da Imagem e do Som paulistano –suas mostras com temas de Bowie a Silvio Santos encantam por exibir aquilo que o p�blico j� conhece, n�o pelo papel de forma��o do olhar que deve estar no cerne de todo museu.
Mas uma torre de marfim que pouco dialoga com o p�blico tamb�m n�o ajuda. O Museu de Arte Contempor�nea da USP, alheio ao que se passa ao seu redor na cena art�stica da cidade, nunca abra�ou o populacho, mas suas galerias vazias preocupam.
Enquanto o Museu do Amanh� continua bombando, a crise econ�mica que paralisa o Brasil e ainda causa estragos no resto do mundo parece anunciar agora um retorno � ordem, um futuro de aposentadoria para os "starchitects" –o MIS do Rio arrisca virar ru�na antes da inaugura��o, por exemplo– e de novas exig�ncias para diretores de museus, que ter�o de fazer da arte e da ci�ncia seu verdadeiro show.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade