Morre aos 91 anos o fil�sofo e soci�logo polon�s Zygmunt Bauman
Michal Kamaryt - 5.out.2006/Associated Press | ||
![]() |
||
Bauman em 2006 ap�s receber o pr�mio Vision 97 do ent�o presidente tcheco, Vaclav Havel, em Praga |
Morreu nesta segunda-feira, aos 91 anos, em Leeds, na Inglaterra, um dos intelectuais mais pop da atualidade, considerado o "profeta da p�s-modernidade".
Esp�cie de grife da sociologia, o polon�s Zygmunt Bauman se consolidou como um dos mais influentes pensadores da virada do s�culo 20 para o 21 a partir da cria��o da met�fora da "liquidez", que aplicou � sociedade, ao tempo, � vida, ao medo e at� � arte do mundo p�s-industrial.
Desde os anos 1960, segundo ele, a acelera��o das mudan�as tecnol�gicas e sociais aprofundou a mobilidade e a individualidade, alterando a no��o de identidade e as rela��es econ�micas, pol�ticas, afetivas e profissionais, marcadas desde ent�o por uma crescente fluidez.
Nestas sociedades "l�quidas", em que a aus�ncia do sentido de solidez e estabilidade � agravada pela globaliza��o, pela internet e pelo consumismo, por um lado o ser humano se tornou mais aut�nomo, mas, por outro, defendia Bauman, ele passou a conviver com incertezas e ansiedade.
A press�o por mudan�as constantes, dizia ele, favoreceria uma cultura do esquecimento -raiz da atual ideia de p�s-verdade-, promovida tamb�m pela capacidade de armazenamento das tecnologias digitais, que desobrigariam os indiv�duos a cultivar qualquer tipo de mem�ria. As consequ�ncias, alertava o soci�logo, s�o morais e envolvem a fragilidade e impot�ncia do homem, a sensa��o de desconhecimento e o status provis�rio das solu��es de problemas.
De escrita acess�vel, Bauman almejava o p�blico leigo, o homem comum que "lutava para ser humano", dizia. Assim, seus livros baseados no conceito de "modernidade l�quida" se popularizaram, ampliando para al�m dos muros da academia o alcance de um tema complexo como a p�s-modernidade.
Judeu nascido em uma fam�lia n�o-praticante na Pol�nia em 1925, Baumann fugiu para a R�ssia durante a invas�o nazista e se alistou no Ex�rcito Vermelho, tendo lutado batalhas em Kolberg e Berlim.
Apesar de ter vivido os horrores da guerra, o ex�lio o salvou de sofrimento maior: os guetos, os campos de concentra��o e o Holocausto. Foi por meio do livro de mem�rias de sua mulher, Janina, que viveu num gueto de Vars�via, que Bauman vislumbrou o sofrimento de seus iguais.
Quatro anos depois da publica��o de "Inverno na Manh�", de Janina Bauman, o soci�logo lan�ou sua an�lise original sobre o nazismo em "Modernidade e o Holocausto", que causou grande controv�rsia ao ser interpretado como um subterf�gio para a Alemanha.
Na obra, Bauman defendia que o Holocausto s� havia sido poss�vel gra�as � tecnologia e � burocracia t�picas da modernidade, cujas ideias de racionalidade e produtividade distanciariam o homem das consequ�ncias menos imediatas de seus atos, criando condi��es para que a responsabilidade moral desaparecesse.
Foi a partir desta an�lise que ele se debru�ou sobre as quest�es �ticas que ocupariam suas reflex�es nos anos 1990: como pessoas consideradas membros exemplares de suas sociedades s�o capazes de participar em monstruosidades? Por outro lado, Bauman acreditava que aqueles que voluntariamente se arriscaram para salvar v�timas do nazismo eram igualmente desafiadores para a sociologia.
Terminada a Segunda Guerra, Bauman retornou � Pol�nia como um oficial do Ex�rcito Vermelho e atuou em unidades militares de intelig�ncia, tendo sido um entusiasta afiliado do Partido Comunista polon�s.
Ele estudou sociologia e filosofia em Vars�via, onde se tornou professor na universidade. Ao tornar-se progressivamente cr�tico do regime socialista sovi�tico, Baumann e sua fam�lia foram obrigados a fugir da Pol�nia durante uma persegui��o antissemita promovida pelo governo comunista em 1968 e imigrar para Israel junto a outros intelectuais judeus.
O casal n�o se adaptou � vida em Tel Aviv, como explicou Janina em uma entrevista: "[Israel] era um pa�s nacionalista e n�s est�vamos fugindo do nacionalismo. N�o quer�amos passar de v�timas de um nacionalismo para nos tornarmos autores de outro".
Tr�s anos depois, em 1971, Bauman se mudou para Leeds, onde lecionou por mais de 40 anos.
Ecl�tico, escreveu sobre temas t�o diversos como nazismo, modernidade, globaliza��o e programas de reality-show, e publicou mais de 70 livros, mais de um por ano, em m�dia, desde que se aposentou da universidade em 1990.
Ele deixa sua segunda mulher, Aleksandra Jasinska-Kania, e tr�s filhas, frutos de seu casamento com a escritora Janina Lewinson-Bauman (1926-2009), que conheceu logo ap�s a Segunda Guerra e com quem foi casado por mais de 60 anos.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade