Reedi��o de 'O Supermacho' � leitura ideal para come�ar 2017
Divulga��o | ||
Ilustra��o de Andr�s Sandoval em 'O Supermacho' |
A frase de abertura � desconcertante: "Fazer amor � um ato sem import�ncia, j� que se pode repeti-lo indefinidamente".
Quem a pronuncia para seus convidados no castelo de Lurance � Andr� Marcueil, o protagonista de "O Supermacho". Logo nas primeiras p�ginas, � moda do romance realista, temos sua descri��o: 30 anos, estatura m�dia, pulsos finos e peludos, queixo arredondado, um tipo comum de homem –mas isso "o tornava extraordin�rio".
Em seguida o rosto de Marcueil se transforma em "m�scara de Carnaval: vidro, ouro e pelos", e come�amos a perceber por que Alfred Jarry subintitulou sua obra de "Romance moderno".
Nela v�o vigorar as solu��es imagin�rias –como nos conceitos da "pataf�sica" elaborados pelo pr�prio Jarry. A a��o se constr�i � margem do realismo ing�nuo, explorando os abismos do subconsciente. O relato sucede em di�logos que refor�am a marca��o teatral das cenas e abre-se para depoimentos supostamente jornal�sticos ou cient�ficos, invoca��es mitol�gicas, jogos de palavras, poemas-surpresa, lirismo e, sobretudo, a busca do riso como elemento de provoca��o.
Alfred Henri Jarry (1873-1907) escreveu aos 15 anos o primeiro esbo�o de "Ubu Rei", a famosa farsa que fez esc�ndalo quando apresentada em 1896; a pe�a come�a com palavra que nunca antes se ouvira num palco franc�s: "Merde!"
Bo�mio, mistificador, louco, Jarry antecipou o surrealismo, o dada�smo, o futurismo, o Teatro do Absurdo e at� o grouxo-marxismo. Era chamado de "Homem-Rev�lver", por gostar de se divertir dando tiros a torto e direito, e pelo seu temperamento art�stico de combate.
Um dia achou de mau gosto o cachimbo de um frequentador do caf� onde estava e atirou no objeto. A bala varou um espelho. No meio da confus�o virou-se para uma mulher sentada a seu lado e disse: "Agora que o espelho se partiu, vamos conversar". � ou n�o � puro Grouxo?
Publicado em 1902, "O Supermacho" ("Le Surm�le") narra eventos que se desenrolam em 1920, prevendo a influ�ncia da m�quina para a �poca. �, tamb�m, um texto sobre a quest�o amorosa que n�o deixa de ser um del�rio er�tico. Andr� Marcueil bate um recorde referido por Teofrasto de Eressos, fil�sofo da Gr�cia Antiga, ao consumar o ato sexual mais de 80 vezes seguidas.
Na melhor cena do romance, o pri�pico Marcueil ingere um poderoso alimento (mescla de Emplasto de Br�s Cubas e Biot�nico Fontoura) e, em cima de uma bicicleta, derrota um trem e um quinteto de campe�es de ciclismo numa corrida maluca das 10 mil milhas. Um super-homem pr�-quadrinhos.
O Supermacho |
Alfred Jarry |
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Ali�s, na foto mais conhecida do autor, ele aparece andando de bicicleta. Adorava o ve�culo, a ponto de acompanhar o enterro de Mallarm� dando umas voltinhas.
A edi��o bem cuidada da novata Ubu recupera a tradu��o de Paulo Leminski (com revis�o de Maria Em�lia Bender), traz ilustra��es de Andr�s Sandoval, posf�cio e notas da cr�tica francesa Annie Le Brun e um texto do fil�sofo italiano Giorgio Agamben. "Jarry �, antes de tudo, essa experi�ncia da divindade do riso, do homem que, no riso, transcende a si mesmo numa infinita e mortal proximidade com o divino", escreve Agamben.
Um livro ideal para come�ar 2017.
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