Para colegas, Felicity Jones, de 'Rogue One', � estrela sem estrelismos
Um tempo atr�s, Felicity Jones andava pelas ruas de Londres quando foi abordada por uma mulher que descreveu como "muito alta e com apar�ncia de modelo", que pediu para fazer uma foto com ela. Atriz indicada ao Oscar, Jones concordou.
Depois de andar mais uma dist�ncia curta, foi abordada por outra transeunte. "Quem era aquela mulher?", a pessoa lhe perguntou.
Relatando o fato, Jones, que se sentiu minimizada, comenta: "Eu s� disse 'n�o sei, mas ela parece bacana'".
E acrescenta: "Tenho os p�s bem firmes no ch�o".
Elizabeth Weinberg/The New York Times | ||
A brit�nica Felicity Jones, protagonista de 'Rogue One', em Los Angeles |
Isso � o que significa ser Felicity Jones, 33, a atriz e fashionista brit�nica cuja carreira, pelo menos segundo alguns c�lculos, acelerou-se exponencialmente com o sucesso cr�tico e comercial de "A Teoria de Tudo", filme biogr�fico sobre Stephen Hawking, lan�ado em 2014.
Segundo outras avalia��es, incluindo a dela mesma, Jones praticamente n�o merece ser reconhecida, sendo apenas uma atriz que se esfor�a muito e cujo curr�culo inclui alguns favoritos cult modestos ("Loucamente Apaixonados") e alguns trabalhos comerciais feitos com grande or�amento ("Inferno").
Mas quaisquer reivindica��es de obscuridade que ela ainda possa fazer n�o resistir�o por muito tempo ap�s o lan�amento de "Rogue One: Uma Hist�ria Star Wars".
Nesse que � o cap�tulo mais recente da �pica aventura espacial, Jones � Jyn Erso, a corajosa e improv�vel l�der de um time de combatentes rebeldes encarregados de roubar a planta da Estrela da Morte, a m�quina de guerra do Imp�rio Gal�ctico, capaz de aniquilar planetas (como sabem os f�s da s�rie, esses s�o os acontecimentos que antecederam o filme original, "Guerra nas Estrelas").
"Rogue One" pode representar uma oportunidade de divulga��o maior para Felicity Jones, que n�o costuma ser vista dando socos ou pilotando naves interestelares em grandes filmes de a��o, ou para os criadores da s�rie "Star Wars", que nos filmes recentes da franquia v�m dando mais destaque a mulheres.
Fiel a seu esp�rito modesto, Jones minimiza essas possibilidades em um bate-papo por videoconfer�ncia a partir do p�tio do hotel Bel-Air em Los Angeles. Prefere destacar sua paix�o por personagens fortes e com as quais as pessoas possam se identificar.
"� dif�cil encontrar um filme independente que tenha uma grande protagonista feminina", diz a atriz. "� dif�cil encontrar qualquer coisa."
"Quer�amos que o p�blico se identificasse com Jyn como pessoa", explica. "Como todas n�s, ela est� tentando entender que diabos fazer."
INCRIVELMENTE NORMAL
Os cineastas e atores que j� trabalharam com Jones ao longo dos anos dizem que isso � t�pico da atriz, que prefere ficar longe dos holofotes e trabalhar a olhar para o alto e ver para onde suas realiza��es a est�o levando.
"Quando voc� conhece Felicity pessoalmente, geralmente � uma surpresa", diz Gareth Edwards, diretor de "Rogue One". "Ela � incrivelmente normal, incrivelmente –digo isso no bom sentido. Nada disso a afetou de modo algum at� hoje. � surpreendente."
O filme que ajudou a chamar a aten��o para ela nos EUA foi "Loucamente Apaixonados", de 2011, em que ela e Anton Yelchin eram namorados tentando manter um relacionamento transatl�ntico.
Dirigido por Drake Doremus a partir de um esbo�o longo, e n�o um roteiro tradicional, "Loucamente Apaixonados" exigiu que Jones inventasse boa parte de seus pr�prios di�logos, incluindo um poema rom�ntico que sua personagem l� a Yelchin em um momento de ternura que eles compartilham na cama.
"Houve pessoas que me mandaram fotos daquele poema tatuado em seu corpo", conta Doremus. "� um tributo a Felicity."
"Loucamente Apaixonados" criou um v�nculo ao mesmo tempo feliz e triste entre Jones e Doremus, que se reencontraram ap�s a morte acidental de Yelchin em junho. "Ainda n�o parece muito real e n�o faz sentido", diz Doremus. "Ele [Yelchin] est� em tudo que fazemos e influencia tudo que fazemos."
Doremus diz que a impress�o duradoura que a atua��o de Felicity Jones deixou nele tem a ver com ela ter posto de lado sua reserva e sua discri��o pessoais para representar uma personagem t�o aberta e vulner�vel.
"O que � bacana na Felicity � que ela n�o � uma atriz, � uma pessoa", ele diz. "Existe muita gente a� fora que � ator ou atriz em primeiro lugar e pessoa em segundo."
Manter a separa��o entre essas esferas de sua vida tornou-se um desafio maior depois de "A Teoria de Tudo", em que Jones fez o papel de Jane Hawking, a (hoje ex) esposa de Stephen Hawking (Eddie Redmayne), que cuidou do cientista quando a doen�a do neur�nio motor o deixou enfraquecido.
O sucesso do filme, pelo qual Redmayne recebeu um Oscar, e Jones, uma indica��o � estatueta, ainda a espanta. A atriz diz que eles abordaram o filme como abordariam um longa independente intimista.
"Um de meus filmes favoritos � 'Clamor do Sexo'", ela diz, "e procuramos emular aquelas atua��es naturalistas, imbu�das de paix�o."
"Quando voc� ouve as palavras m�gicas, ou seja, 'isso funciona!'– voc� sabe que alguma coisa deu certo."
LUKE � AVESSAS
Gareth Edwards, cujos cr�ditos incluem "Monstros" (2010) e o remake de "Godzilla" (2014), diz que "Rogue One" reverte intencionalmente algumas das conven��es da trilogia "Star Wars" original e a hist�ria de Luke Skywalker.
"'Guerra nas Estrelas' � a hist�ria de um garoto que cresce em um lar tranquilo e sonha em ir para uma guerra", ele comenta. "E se tivermos a hist�ria de uma garota que cresce numa guerra e sonha em voltar para a tranquilidade do lar?"
Com isso em vista, Edwards diz que n�o procurou "uma atriz de a��o no sentido cl�ssico –aquela expectativa convencional de uma soldada ou rebelde".
"� poss�vel ensinar qualquer pessoa a lutar, desde que os dubl�s treinem o suficiente", ele diz. "Mas n�o d� para ensinar algu�m a mostrar tanta alma em seu olhar. Sempre que voc� aponta a c�mera para Felicity, h� muitas coisas acontecendo dentro dela."
A escolha de mulheres para os pap�is principais de filmes de fantasia como "Rogue One", "O Despertar da For�a" e "Ca�a-Fantasmas" mostrou-se altamente provocativa, atraindo a ira dos poucos f�s frustrados que veem isso como uma concess�o � corre��o pol�tica.
Felicity Jones desvia do assunto, dizendo: "Quer�amos que o espectador se identificasse com Jyn como pessoa, seja menino ou menina, homem ou mulher".
Kathleen Kennedy, presidente do est�dio Lucasfilm, que faz os filmes da franquia, � mais direta ao comentar se sentia a necessidade de aplacar esses cr�ticos.
"N�o sinto que eu tenha a responsabilidade de agradar a esse ou aquele setor do p�blico. Eu jamais diria 'esta � uma franquia que h� anos atrai principalmente o p�blico masculino, logo, devo alguma coisa aos homens'."
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade