Cr�tica
Cr�tica: Conservador, 'Elis' deixa clara a op��o por agradar ao p�blico
H� filmes que, em uma noite, conseguem transmitir o sentimento de uma �poca. � o caso, digamos, de "Uma Noite em 67". N�o � nessa chave que se pode ver "Elis", cinebiografia que se dedica essencialmente � vida e obra de Elis Regina.
No entanto, a carreira de Elis acontece entre o come�o dos anos 1960 e sua morte, em 1982. Um per�odo especial da cultura brasileira: ali h� bossa nova e cinema novo, CPC e CCC, ditadura e resist�ncia, Gil e Caetano, Chico e Edu Lobo, teatros Oficina e Arena, TV Record e Rede Globo.
N�o foi pouca coisa. � verdade que o filme de Hugo Prata passa por essa �poca, mas um tanto de rasp�o. O essencial ali � captar a ascens�o, gl�ria e queda de Elis Regina, tida e havida como maior cantora do per�odo em sua �poca.
Um primeiro problema se apresenta a essa concep��o: a vida de Elis Regina n�o � t�o dram�tica assim. Claro, ela comporta conflitos com o primeiro marido (Ronaldo B�scoli), que o filme descreve como incuravelmente mulherengo. Ou ainda um momento em que, acossada pela pol�cia (ou algo assim), � for�ada a cantar numa cerim�nia de militares. Ou at� a violenta resposta do chargista Henfil em "O Pasquim".
Em suma, existe algo de intranspon�vel na era Elis: ela entra na hist�ria quer se queira ou n�o. Mas dela o filme empenhou-se em reter o m�nimo, ao fixar sua aten��o em especial sobre seu talento e car�ter.
O talento � bem conhecido. Uma das cenas mais interessantes do filme mostra Elis, em in�cio de carreira, assistindo a um show de Nara Le�o, revoltada com aquela voz pequena.
Elis define ali o seu territ�rio: � uma cantora do d� de peito, da voz solta, mesmo que n�o raro isso signifique contrariar o esp�rito da m�sica que est� interpretando. N�o � imposs�vel, como parece postular o longa, que Elis tenha sido uma das principais respons�veis pelo fim da bossa nova, a partir de seu sucesso no programa "O Fino da Bossa".
Quanto ao car�ter, digamos, para resumir, ela ficou conhecida pelo apelido de Pimentinha. Ou seja, n�o fugia de brigas e discuss�es. Tinha um car�ter forte.
Esse car�ter, por sinal, responde em parte pela pouca dramaticidade do filme. Elis n�o � cantora que "vem de baixo", como se diz. Teve mais dificuldade para chegar aonde chegou do que o filme pode nos levar a crer, mas nem foi t�o tanto assim.
Em suma, ningu�m espere encontrar aqui algo an�logo a "Piaf", que em 2007 teve o m�rito de apresentar ao mundo Marion Cotillard e mais ou menos s�. O que poderia haver de melodram�tico da vida de Elis est� na fase final, mas o filme mant�m-se bastante s�brio em rela��o ao per�odo.
Diante disso, estamos quase obrigados a perguntar: se o filme passa batido pela �poca que representa, se n�o oferece maior dramaticidade, o que tem a mostrar?
Primeiro, que sua op��o � claramente conservadora do ponto de vista cinematogr�fico. O que, diga-se, � a norma do cinema brasileiro atual.
Segundo, que por isso mesmo n�o explora as potencialidades do roteiro, que parece sugerir articula��es bem mais ricas do que o visto na tela.
Terceiro, Andr�ia Horta. A atriz j� tomara parte em filmes de menor estatura (foi, inclusive, protagonista da s�rie de TV "Alice"), mas aqui chega realmente com tudo. Entrega-se n�o a imitar Elis, mas a efetivamente encarnar a cantora e seu carisma (carisma em que, ali�s, o filme aposta).
Quarto, o som. Para os f�s de Elis, o filme apresenta diversas interpreta��es da cantora. Na medida do poss�vel, com a gestualidade que ela tornou bem conhecida.
Todos esses itens resumem o que parece ser uma clara op��o por agradar ao p�blico potencial, mais do que revelar algo de fundamental sobre Elis, seu tempo, forma��o, convic��es etc. Quase cena por cena estamos diante de uma op��o pelo convencional: como se assist�ssemos a um antigo musical dos anos 1930 ou 40, sem a mesma produ��o.
Nesse sentido, sim, "Elis" at� se aproxima de "Piaf", assim como se coloca na mesma faixa de outras biografias recentes de vultos nacionais que o cinema comercial brasileiro tem explorado com resultados comerciais em geral satisfat�rios e resultados art�sticos invariavelmente � beira do nada.
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