Em estreia de turn�, Kanye West se apresenta em plataformas flutuantes
Karen Minasyan/AFP | ||
O rapper Kanye West em show na Arm�nia, em 2015 |
Em junho, surgiram rumores que Kanye West faria um show secreto no Webster Hall, de Nova York, depois do festival Hot 97's Summer Jam. Na madrugada, a rua estava repleta de jovens esperando pela oportunidade de ver seu her�i. O show n�o aconteceu, mas em dado momento um carro passou pela rua e West colocou a cabe�a para fora do teto solar. A multid�o correu e o cercou; um ou dois minutos depois, o carro se foi, seguido por uma multid�o de f�s Terceira Avenida acima.
Foi uma bela express�o do fanatismo engendrado por um artista que usa o frenesi como pintura. E ofereceu uma inesperada antevis�o da noite de abertura da turn� Saint Pablo, de West, que celebra "The Life of Pablo", seu �lbum lan�ado em fevereiro, e estreou no Bankers Life Fieldhouse, em Indian�polis, na noite de quinta-feira (25).
A apresenta��o foi como aquela cena de rua, amplificada e capturada em uma experi�ncia consum�vel. N�o havia um palco propriamente dito. West cantou o show inteiro em plataformas que flutuavam seis metros acima do piso da arena e disparavam raios de luz em todas as dire��es. As plataformas flutuavam lentamente por sobre a multid�o, como uma espa�onave do Imp�rio disparando pelo espa�o em "Star Wars". De um lado do sal�o havia uma grande tela na qual eram projetadas imagens distorcidas de c�meras que filmavam West de diversos �ngulos, inclusive do teto.
Por boa parte da noite, West cantou em uma pequena plataforma quadrada, ancorada por uma corda central que subia e passava por seu casaco enquanto a plataforma se inclinava em �ngulos prec�rios. Ele se movia em c�rculos e dan�ava na plataforma, usando a corda como apoio; �s vezes ele se sentava na beira da plataforma e deixava as pernas penduradas, e em dado momento se deitou e estendeu a m�o � multid�o, como que oferecendo uma ben��o.
Isso fazia com que West estivesse ao mesmo tempo improvavelmente perto da plateia e tentadoramente fora de alcance. Pelos primeiros 20 minutos ou pouco mais, os espectadores formaram um c�rculo em torno da plataforma enquanto ela percorria o sal�o de um lado a outro, contemplando West e filmando-o com seus celulares, enquanto ele cantava algumas das can��es mais pesadas de seu cat�logo: "All Day", "Famous", "Mercy", "Don't Like (remix)".
Mas em seguida as pessoas perceberam que podiam usar o espa�o banhado em luzes por sob a plataforma, e o piso se tornou uma festa escancarada, como uma rave em um armaz�m, ou como o momento em que as cervejas come�am voar no mosh pit de um show hardcore. De cada lado do sal�o, alto-falantes disparavam linhas de baixo fisicamente pesadas, literalmente for�ando os f�s a deixar as laterais da sala e a se agruparem no centro.
� uma maneira minimalista e elaboradamente eficiente de fazer um show ao vivo: deixa West mais pr�ximo das duas pontas da sala e tamb�m tanto dos espectadores que dan�am sob a plataforma quanto das pessoas sentadas nos assentos mais baratos, no anel superior. Houve at� um momentos de contato entre as pessoas de fora e o c�rculo interno de West –no meio dos espectadores que dan�avam sob a plataforma, estavam alguns dos amigos do rapper e membros de sua equipe de cria��o: Virgil Abloh, Scooter Braun, Travis Scott, ASAP Bari.
Para quem estava no piso, era poss�vel escolher de que maneira experimentar o show –contemplar West l� em cima, dan�ar nas luzes por sob a plataforma, ou absorver a experi�ncia toda assistindo das laterais. N�o havia muita coisa que desviasse a aten��o. West cantou acompanhado por instrumentos pr�-gravados e com a ajuda ao vivo do cantor Tony Williams, do produtor e multi-instrumentista Mike Dean, e de Caroline Shaw, compositora e vocalista premiada com o Pulitzer, todos vestindo preto e ocupando um pequeno palco em um dos extremos do sal�o.
A inova��o de West em seu novo show � mais uma em um ano repleto de novidades. Drake, Beyonc� e Rihanna realizaram esfor�os deliberados em suas turn�s para reduzir os espa�os superdimensionados, como que reconsiderando a din�mica de poder vinda de cima para baixo, nos espet�culos ao vivo em larga escala, para levar em conta a era de intimidade e de imediatismo da m�dia social.
Mas a estrutura n�o deixou de causar algumas complica��es. Em duas ocasi�es, West parou a m�sica porque as pessoas sob a plataforma estavam agitadas demais. E ele passou boa parte da segunda metade do show em uma plataforma maior –usou um MPC para tocar o beat de "Runaway", falou aos espectadores e cantou algumas can��es mais felizes, como "Good Life" e "All of the Lights" –mas se manteve perto do centro da plataforma, o que dificultava v�-lo de baixo.
Em seus shows, West muitas vezes usa discursos como uma maneira de reduzir o espa�o que o separa da audi�ncia, mas o dinamismo f�sico do novo espet�culo executava essa miss�o para ele, e por isso n�o houve longas falas. Ele abriu um segmento dizendo que "agora que tenho filhos, minha perspectiva mudou", antes de agradecer o presidente-executivo da Nike, uma empresa com a qual seu relacionamento foi conturbado no passado, e tamb�m a Adidas, sua atual parceira nos cal�ados. Ele refor�ou sua insist�ncia em que a arte e com�rcio deveriam aprender a conviver bem. "Sonhos s�o poss�veis", ele disse, mas admitiu que "cada dia � uma batalha".
O show j� durava quase duas horas, �quela altura, e a energia da plateia j� havia chegado ao pico e passado dele. As luzes ganharam for�a e West se tornou mais contemplativo, cantando trechos de "30 Hours" e "Real Friends", algumas das faixas menos ruidosas de "The Life of Pablo". Quando ele chegou a "Only One", de 2014 –cantada da perspectiva de sua m�e, morta em 2007–, a sala estava quase silenciosa.
E West ent�o voltou a jogar com as rela��es espaciais –n�o entre ele e a plateia, mas entre ele e o desconhecido, quando uma luz vermelha e circular desceu e o envolveu como um portal para o para�so. Ent�o vieram trechinhos de coral gospel, em "Ultralight Beam", pontuando a m�sica com uma f� dilacerante, seguidos pela pulsa��o revigorante de "Fade", um banho de vocais ambientes e sintetizadores. Quando as luzes se acenderam, West havia desaparecido na neblina.
Tradu��o de PAULO MIGLIACCI
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