an�lise
an�lise: Obra de Tunga n�o ficava restrita ao discurso autorreferente da arte
Marcos Augusto Gon�alves/Folhapress | ||
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O artista pl�stico Tunga |
O percurso de Tunga � singular na arte brasileira. Por um lado, ele deu continuidade �s propostas mais radicais de Lygia Clark e H�lio Oiticica, valorizando a presen�a do espectador, questionando os suportes tradicionais, usando o corpo como territ�rio de express�o.
Contudo, de forma muito distinta da performance, Tunga utilizou em suas obras, ou "instaura��es", como ele preferia cham�-las, uma encena��o que se distanciou de forma bastante radical da espontaneidade que os artistas dos anos 1960 e 1970 buscavam.
Em "Xip�fagas Capilares", por exemplo, exibida pela primeira vez em uma galeria comercial, em 1985, Tunga apresentou duas adolescentes loiras semelhantes unidas por uma vasta cabeleira, que percorriam o espa�o de m�os dadas.
A a��o foi refeita algumas vezes. A estranheza do confronto com as meninas � um tanto semelhante �s estrat�gias surrealistas de provocar o espectador a partir da uni�o de elementos conhecidos, mas que n�o costumam estar juntos —como o "Telefone-lagosta", criado por Salvador Dal�, em 1936.
No entanto, Tunga visava mais que a provoca��o e o choque, mesmo que trabalhasse muito bem nessa condi��o. Em toda a sua obra se percebe, contudo, uma profunda reflex�o sobre a condi��o humana.
No caso de "Xif�pagas Capilares", a problem�tica do duplo, tema recorrente em sua obra, sobressai. H� quatro anos essa "instaura��o" pode ser revista, desde quando o Inhotim inaugurou o pavilh�o dedicado ao artista.
Em um cen�rio onde os museus de arte do Brasil n�o d�o conta de apresentar de forma decente a produ��o atual, Tunga se tornou um dos poucos privilegiados a ter no Inhotim um local onde seu trabalho pode ser visto de forma abrangente e completa —com pelo menos dez obras de grande porte.
Esta l�, por exemplo, "� Luz de Dois Mundos", criada para ser exibida no Museu do Louvre, em Paris, em 2005. Nela, Tunga exp�e uma caveira em uma imensa rede met�lica, refer�ncia ao processo civilizador nos tr�picos, que dizimou milh�es de ind�genas em todo continente americano.
Em "� Luz de Dois Mundos", o coment�rio de Tunga n�o � literal como pode parecer em uma descri��o de poucas palavras. A obra � complexa, cheia de mist�rios e met�foras, como em toda sua produ��o.
Outro trabalho exibido no Inhotim � "Teresa", que em 1999 foi apresentado com cem desempregados em Buenos Aires, na Argentina. Na inaugura��o de seu pavilh�o no Inhotim, em 2012, cem jardineiros tomaram parte da encena��o de tran�ar len��is, como fazem os detentos para escapar dos pres�dios, da� o nome "Teresa".
Essa "instaura��o" representa outro elemento essencial na obra de Tunga: n�o fica restrito ao discurso sobre a arte. Sua "Teresa" simboliza a necessidade da fuga do circuito, do rompimento com as certezas institucionais, a busca pela liberdade.
A radicalidade da obra de Tunga comprova que � poss�vel ser experimental e, ao mesmo tempo, conseguir inser��o sem comprometimento. Assim ele participou das mostras mais importantes, como a Documenta de Kassel, em 1997, a Bienal de Veneza, em 1982, e v�rias vezes a Bienal de S�o Paulo.
Assim Tunga ser� lembrado. Como poucos, ele afinal assumiu a m�xima de M�rio Pedrosa: "A arte � o exerc�cio experimental da liberdade".
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