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an�lise: 'Star Wars' � alegoria para nossa capacidade de criar e destruir
A batalha continua. O novo epis�dio da saga "Star Wars" � um sucesso absoluto. Com US$ 761 milh�es, o filme superou nesta quarta-feira (6) os US$ 760,5 milh�es arrecadados por "Avatar" nas bilheterias norte-americanas.
A ag�ncia Bloomberg estima que junto ao sucesso de filmes como "Jurassic World", Hollywood arrecadar� em torno de US$ 11 bilh�es em 2015. A guerra extragal�ctica ocorre tamb�m aqui, no caso, pela aten��o do p�blico, dividida com a TV e com a ind�stria do videogame. Fui ao cinema com o p� atr�s, temeroso de que o novo epis�dio fosse me decepcionar. Ningu�m quer isso, especialmente numa saga s�mbolo de toda a gera��o que cresceu com ela.
O primeiro epis�dio (quarto na ordem da s�rie) foi lan�ado em 1977, escrito e dirigido por George Lucas, estrelando Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher e Alec Guinness. Temos, portanto, 38 anos de Star Wars, uma fantasia em que uma outra gal�xia tem vida inteligente abundante, e as mesmas disputas que vemos aqui na Terra e no decorrer da hist�ria s�o repetidas ciclicamente. O tempo avan�a linearmente, mas a hist�ria tem um tempo c�clico.
No novo epis�dio, os paralelos com a ascens�o do nazismo s�o claros. (Aviso ao leitor: daqui em diante revelarei partes do enredo).
Depois da queda do Imp�rio no epis�dio 6, as for�as do mal ressurgem na Primeira Ordem e a hist�ria continua: o l�der quer controlar a gal�xia, usando uma arma espacial capaz de destruir planetas como se fossem bolhas de sab�o e, nas batalhas mais tradicionais, batalh�es de stormtroopers.
Num discurso de seu general, os troopers se alinham numa pra�a como as tropas de Hitler, fazendo uma sauda��o semelhante �quela nazista. Para controlar a gal�xia, a Primeira Ordem precisa eliminar os Jedi, ou o �nico que sobrou deles, Luke Skywalker.
Luke, que tentou reorganizar a nobre ordem, acabou desistindo depois de ter sido tra�do por um de seus pupilos favoritos, seu sobrinho Kylo Ren, filho de Han Solo e da Princesa Leia. Na inevitabilidade c�clica da narrativa, Ren sucumbe ao lado nefasto da For�a. Sua inspira��o, claro, � seu av�, Darth Vader.
Com novos personagens que interagem com os celebrados Han Solo, Princesa Leia e Luke Skywalker, o diretor J. J. Abrams conduz uma sequ�ncia sensacional, na qual vemos o inevit�vel ocorrer: a For�a existe tanto para o Bem quanto para o Mal.
Se o Mal ressurge, ressurge tamb�m o Bem, de forma a manter um equil�brio c�smico entre os dois extremos.
Com Luke isolado num planeta distante, o Bem encarna na novi�a Rey (Daisy Ridley), que recebe o poder sem saber como e por qu�. F�s reclamaram disso; Rey sabe fazer de tudo: pilotar qualquer nave espacial, consert�-las, lutar e at� mesmo derrotar alguns dos melhores soldados da Primeira Ordem usando a For�a.
Ela � a personagem que representa a audi�ncia, que precisa superar barreiras.
Rey � o Bem que todos queremos ser, suas batalhas simbolizando as que temos na vida, o enredo de cada um em que o Bem e o Mal se embatem nas v�rias frentes do dia a dia: trabalho, pol�tica etc. O Bem e o Mal precisam coexistir, mas � sempre bom ver o Bem triunfar, mesmo que temporariamente.
Esse n�o � um filme de fic��o cient�fica no qual a ci�ncia � levada a s�rio. Extrair energia de uma estrela como muni��o para uma arma � algo imposs�vel; nenhum material s�lido pode suportar as temperaturas de dezenas de milh�es de graus no interior de estrelas.
Ademais, a massa da estrela n�o pode ser "armazenada" num planeta, sem que este imploda. Sons s� ocorrem quando existe algum tipo de atmosfera por onde podem ser propagados. Guerras no espa�o s�o silenciosas.
Mas ningu�m quer uma aula de f�sica quando vai ao cinema. O que queremos � emo��o, e isso o filme tem.
Melhor consider�-lo como uma alegoria do nosso pr�prio planeta, da nossa capacidade para criar e destruir, da sedu��o do poder, da inevitabilidade do bem e do mal.
Se a For�a representa uma esp�cie de consci�ncia c�smica, uma representa��o abstrata de deus, vemos que mesmo no divino a coexist�ncia do bem e do mal � inevit�vel. O dom�nio puro do Bem ou o dom�nio puro do Mal s�o utopias. A grande li��o da saga de George Lucas � que um n�o pode existir sem o outro. E que a grande quest�o para cada um de n�s � a escolha de que lado iremos servir.
MARCELO GLEISER � professor titular de f�sica no Dartmouth College (EUA) e autor de "A Ilha do Conhecimento" (Record).
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