CR�TICA
CR�TICA: Forte e atual, Adorno flagra as contradi��es do presente em livro
O que valia mais para Theodor W. Adorno (1903-1969) era o aqui e o agora. Ele n�o s� analisou o socialismo sovi�tico, o fascismo alem�o e o american way of life, dos quais escapou por pouco, como viu o nexo entre eles na forma��o da civiliza��o contempor�nea –aquela dos homens ocos e da sociedade lacerada.
"Ensaios sobre Psicologia Social e Psican�lise" permite aquilatar a atualidade do pensamento do pr�prio Adorno, tal como exposto em ensaios de meados do s�culo passado. Como Freud perdeu uma parte substantiva da sua relev�ncia cultural nas �ltimas d�cadas, seria presum�vel que o livro dissesse pouco ao presente.
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O fil�sofo alem�o Theodor W. Adorno |
Longe disso. Adorno continua forte. Ele abre brechas nas muralhas do pensamento autom�tico e flagra as contradi��es irresolvidas do presente. Assim como mitos e deuses gregos (�dipo, Eros etc.) rejuvenesceram devido ao sentido novo que Freud lhes atribuiu, a psican�lise readquire teor subversivo nas sondagens de Adorno.
Isso ocorre com dois movimentos. O primeiro se d� na Viena dos anos 1920, quando Adorno ret�m o gume antiacad�mico da psican�lise, o primado que ela confere ao inconsciente e a atra��o que exerce sobre as vanguardas pol�tica e art�stica.
O segundo movimento � feito nos Estados Unidos do p�s-guerra, per�odo em que a psican�lise ganha respeitabilidade e se institucionaliza. � a hora na qual Adorno critica a bancada vienense, os revisionistas que "sublimam a pr�pria psican�lise" e fazem com que se torne "aceit�vel universalmente".
� sem psicologizar a sociedade, e sem sociologizar os indiv�duos, que Adorno critica a psican�lise. Para ele, "a humanidade fracassou na forma��o de um sujeito social total e racional". Apoia-se em Nietzsche ("a insanidade � algo raro no indiv�duo –mas em grupos, partidos, povos, �pocas, � a regra") para penetrar o presente.
Faz isso quando defende a negativa do criador da psican�lise em reconciliar o homem e a sociedade: "A grandeza de Freud, tal como a de todos os pensadores burgueses radicais, consiste em que ele deixa contradi��es irresolvidas e recusa a pretens�o a uma harmonia sistem�tica".
Adorno critica at� a libera��o sexual. Ele a v� como "apar�ncia" e "integra��o" � ordem do capital.
O sexo foi integrado, afirma ele, "tal como a sociedade burguesa se assenhorou da amea�a do proletariado ao coopt�-lo". Parece que est� escrevendo sobre o Brasil dos beijos gays em hor�rio nobre, dos governos petistas e de transg�neros em todas as paradas.
Tamb�m poderia se referir ao Brasil dos dias de hoje quando analisa o discurso dos pregadores evang�licos, dos fascistas e dos incitadores da turba, os "rabble-rousers". O objetivo desses �ltimos, diz, � transformar indiv�duos em turba, em "multid�es tendentes � a��o violenta sem nenhum fim pol�tico sensato, a criar a atmosfera do pogrom".
A introdu��o aos ensaios, de Christian Lenz Dunker, � circunstanciada e abrangente. Mas fica o lembrete que � dif�cil ler Adorno. Ele � denso e dial�tico, requer a aten��o plena do leitor. O esfor�o compensa: o mundo contra o qual pensou � o nosso.
MARIO SERGIO CONTI � apresentador do programa "Di�logos", da GloboNews, e autor de "Not�cias do Planalto" (Companhia das Letras)
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