Autor de 4� livro da saga 'Millenium' diz que pode escrever mais um
Sexo, viol�ncia, n�meros primos, autismo, intelig�ncia artificial e uma enorme tatuagem de um drag�o. Com essa barafunda, o jornalista sueco David Lagercrantz constr�i o quarto volume da s�rie "Millennium", criada pelo tamb�m sueco Stieg Larsson (1954-2004) e aclamada como uma das franquias liter�rias de maior vendagem da hist�ria.
Lan�ado na quinta (27) com pompa e circunst�ncia no mundo inteiro, "A Garota na Teia de Aranha" exibe n�meros impressionantes: chega a dezenas de pa�ses simultaneamente, com tiragem inicial de 2,7 milh�es de exemplares. O que n�o � exatamente de surpreender, pois a s�rie estrelada pela jovem super-hacker Lisbeth Salander e pelo jornalista investigativo Mikael Blomkvist j� vendeu mais de 80 milh�es de exemplares desde o lan�amento, em 2005.
Sim: os manuscritos das tr�s novelas que originalmente formam a s�rie foram publicados depois da morte de Larsson. Agora, seus herdeiros –pai e irm�o– contrataram um escritor para produzir a continua��o da franquia.
Jonathan Nackstrand/AFP | ||
![]() |
||
David Lagercrantz, autor do 4� livro da s�rie Millenium |
A companheira de Larsson, Eva Gabrielsson, que n�o � herdeira legal do escritor, condena a sequ�ncia como mera manobra para faturar mais alguns milh�es de d�lares.
Joakim e Erland Larsson, pai e irm�o de Stieg, negam. Dizem que n�o se trata de fazer dinheiro r�pido e que os lucros ser�o repassados para a "Expo", revista antirracismo da qual Stieg foi cofundador.
Por seu lado, Lagercrantz, que n�o tem nada a ver com as pendengas sucess�rias, se declara absolutamente entusiasmado com o projeto e os resultados de sua produ��o.
"Estou exausto, em entrevistas dia e noite. Mas estou muito feliz porque as resenhas s�o excelentes em todo o mundo", disse ele, em entrevista por telefone � Folha.
Mas as cr�ticas da "vi�va" s�o uma sombra. "Esse � o trabalho de minha vida, escrevi com paix�o, n�o por dinheiro. A �nica coisa que me entristece � que ela [Eva Gabrielsson] tenha ficado t�o brava. Espero que chegue a um acordo com o pai e o irm�o de Larsson", afirmou Lagercrantz.
A Garota na Teia de Aranha (Vol. 4) |
David Lagercrantz |
![]() |
Comprar |
A sequ�ncia, afirma ele, � muito boa para o trabalho de Larsson. "O escritores querem ser lidos. � por isso que escrevem. Agora uma nova gera��o de leitores vai descobrir seus livros. E vai conhecer o seu grande trabalho, de uma vida toda, que foi de lutar contra o racismo, contra a extrema direita e a intoler�ncia, o que � hoje ainda mais importante."
A pr�pria trama do livro traz isso � tona, apresentando figuras da NSA, a ag�ncia norte-americana de seguran�a, atuando a servi�o de interesses privados em conluio com grupos criminosos.
"No tempo em que Larsson escreveu, os hackers eram indiv�duos, gente fora da lei. Hoje em dia, como [Edward] Snowden mostrou, quem faz a espionagem s�o as corpora��es, os Estados. O trabalho de pessoas como Lisbeth Salander � ainda mais necess�rio", diz Lagercrantz.
Antes de criar sua hist�ria, conta ele, tratou de ler e reler as tramas produzidas por Larsson, decorar os livros. "Havia muitos desafios. O maior era encontrar uma trama. Nisso, Larsson era mestre. Precisava n�o apenas recriar o trabalho dele, mas colocar algo de meu na hist�ria."
Pois conseguiu. Do ponto de vista formal, o f� de Larsson vai se sentir � vontade ao abrir o volume. Logo reconhecer� a mesma estrutura dos demais livros, cada cap�tulo identificado por uma data ou sequ�ncia de dias, ep�grafes abrindo cada uma das partes do texto.
Salander e Blomkvist s�o recriados tal e qual o figurino da s�rie, com b�nus para o f�. Lagercrantz mergulha na inf�ncia da super-hacker para finalmente explicar por que a garota se tornou especialista em computa��o.
O jornalista, por seu lado, precisa enfrentar amea�as � pr�pria exist�ncia da sua revista, a "Millennium", que acaba de ser engolida por uma corpora��o de m�dia –demiss�es e mudan�as de rumo editorial s�o algumas das consequ�ncias.
A figura mais emblem�tica da hist�ria �, por�m, uma das v�timas: um garoto autista que se revela mestre do desenho foi o ponto de partida de Lagercrantz para produzir a trama.
"Acordei �s quatro da manh� pensando em uma hist�ria antiga, de um menino autista com capacidades especiais para o desenho. Comecei a pensar nele como uma figura espelho de Salander. Ent�o imaginei o que poderia acontecer se um menino assim estivesse no meio de algo terr�vel, como um assassinato. Bang, bang! Eu tinha uma hist�ria", contou.
De fato, uma boa hist�ria. Que ainda traz para os holofotes da trama a g�mea de Salander. Art�fice de maldades, Camilla continua � solta depois de sedu��es, tortura e assassinatos. Sai da hist�ria como a dizer que a s�rie "Millenium" n�o acaba agora.
"Talvez eu fa�a, talvez eu n�o fa�a uma sequ�ncia", solta Lagercrantz, cujo livro mais conhecido at� agora foi uma biografia do goleador sueco Zlatan Ibrahimovi?.
"Atualmente estou simplesmente muito satisfeito com o trabalho, � um privil�gio. Terei agora uma s�rie de viagens de divulga��o e s� espero ter um tempinho livre no final do dia para tomar um copo de vinho no quarto de meu hotel e pensar no que realmente gostaria de fazer. O que eu sei � que eu n�o vou ser Stieg Larsson pelo resto de minha vida. Vou pegar outros desafios. Talvez escreva um quinto livro. Ou n�o. Vamos ver", diz, ao concluir a entrevista.
Sim. Vamos ver.
Leia a entrevista de David Lagercrantz na �ntegra no blog Mais Corrida
A GAROTA NA TEIA DE ARANHA
AUTOR David Lagercrantz
TRADU��O Fernanda Sarmatz �kesson e Guilherme Braga
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 44,90 (488 p�gs.)
Divulga��o | ||
![]() |
||
Capa do livro 'A Garota na Teia de Aranha', quarto livro da trilogia Millennium |
TRECHO
— E o que aconteceu depois?
— Nada. Absolutamente nada, e esse talvez seja o detalhe mais estranho. O epis�dio simplesmente foi ignorado e, ao que tudo indica, porque o cirurgi�o n�o quis process�-la. De qualquer forma, Mikael, foi um ato de loucura. Nenhuma pessoa equilibrada entra num consult�rio m�dico para quebrar dedos de um cirurgi�o. Nem Lisbeth Salander em seus momentos mais desvairados faria uma coisa dessas.
Mikael Blomkvist n�o estava totalmente convencido. Achava tudo muito l�gico, ou pelo menos dentro da l�gica de Lisbeth. (...)Teve a impress�o de n�o ser um caso qualquer para Lisbeth, sobretudo pelo alto risco que ela havia corrido.
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade