Aos 70 anos, Walter Franco lota shows e se apresenta na Virada Cultural
Walter Franco, 70, recebe a Folha na casa de Maria Cristina, sua ex-mulher –e melhor amiga–, com um netinho dormindo no quarto e o cachorro Juca, um labrador de 15 anos, brincando com o entrevistador e o entrevistado.
Um retrato extremamente tranquilo de um cantor e compositor que teve durante anos a capacidade de mostrar can��es que nunca se desgrudaram do r�tulo de "pol�micas".
Depois de causar impacto em festivais e gravar cinco discos elogiados entre 1973 e 1982, nos �ltimos 33 anos ele s� lan�ou "Tutano", em 2001. Afastamento volunt�rio? Rejei��o das gravadoras?
"S�o as duas coisas. H� um momento na vida que a gente corta rela��es, rompe com as coisas que faz. Aconteceu. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas nunca me deixaram muito isolado. Fui sempre chamado para shows, com banda ou s� voz e viol�o", diz o cantor. E sua agenda deste ano confirma isso.
Desde janeiro, seus shows t�m ingressos esgotados semanas antes das apresenta��es. As casas superlotam, como nas noites no Sesc Vila Mariana e no Centro Cultural S�o Paulo –onde o p�blico invadiu totalmente o palco, deixando Walter "preso" no centro da cena, levado a tocar mais can��es.
Essa fase de popularidade deve ter mais um epis�dio no domingo (20). Ele se apresenta no Sesc Pompeia, dentro da Virada Cultural, com o antigo parceiro Jards Macal�, 70, e a Banda Isca de Pol�cia, que acompanhava Itamar Assump��o (1949-2003).
Walter Franco tem um motivo a mais para comemorar. Gravado h� 40 anos, seu �lbum mais aclamado, Revolver, foi relan�ado em vinil h� duas semanas.
� seu segundo disco, que se equilibra entre a MPB de vanguarda e o rock experimental. Quem se interessa por Frank Zappa ou Arrigo Barnab� n�o pode deixar de conhecer.
Depois ele gravaria "Respire Fundo" (1978), "Vela Aberta" (1979) e "Walter Franco" (1982), com m�sicas que seus f�s exigem nos shows, como "Cora��o Tranquilo", mantra de quatro versos que sintetiza o encontro da influ�ncia oriental e da poesia concreta, motrizes de sua poesia.
Mas s� � poss�vel entender a for�a de Walter, que nunca fez parte de movimentos na MPB, quando se conhece suas passagens nos festivais.
Em 1972, ele apresentou "Cabe�a" no Festival Internacional da Can��o. O j�ri, que tinha, entre outros, Nara Le�o, Julio Medaglia, Roberto Freire, Rog�rio Duprat e D�cio Pignatari, decidiu que a m�sica era a vencedora do concurso.
Hermeto Pascoal, que o acompanhava, foi impedido de subir ao palco com um porco. "Hermeto queria o som do porco na m�sica, tinha l�gica nisso", conta Walter.
Os jurados gostaram, mas o p�blico vaiou muito. Censores do governo militar, que acompanhavam a transmiss�o da Globo nos bastidores, impediram que uma m�sica de versos entrecortados e sons eletr�nicos ganhasse. O j�ri foi desfeito e a vencedora foi "Fio Maravilha", de Jorge Ben, defendida por Maria Alcina.
As rea��es foram intensas, entre aplausos e vaias, e Roberto Freire pegou o microfone para denunciar o ocorrido.
Em 1975, Walter voltou a receber uma sonora vaia no Festival Abertura, quando apresentou "Muito Tudo". Apesar disso, ganhou o terceiro lugar.
Ele se reencontrou com vaias em 1979, no Festival da TV Tupi, quando cantou a berrada "Canalha". "N�o chamava ningu�m de canalha, � uma m�sica que fala da dor existencial", explica, com o tom calmo e constante de seu cora��o tranquilo.
JARDS MACAL�, COM WALTER FRANCO E BANDA ISCA DE POL�CIA
QUANDO domingo (21), �s 18h
ONDE Sesc Pompeia, r. Cl�lia, 93, tel. (11) 3871-7700
QUANTO gr�tis; ingressos dispon�veis a partir das 17h do s�bado (20), em todas as unidades do Sesc da cidade
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade