'N�o existe leitor passivo', diz cr�tico liter�rio Harold Bloom
Aos 83 anos, com sa�de fr�gil, Harold Bloom, cr�tico liter�rio mais famoso da atualidade, segue lecionando na Universidade de Yale (EUA).
Seus cursos sobre Shakespeare e literatura norte-americana s� aceitam 12 alunos cada, j� que, sobretudo no inverno, as aulas �s vezes s�o transferidas para a sua casa.
No semana passada, Bloom conversou com a Folha sobre seu livro-testamento, "A Anatomia da Influ�ncia", lan�ado aqui no final de 2013.
Jori Klein/Divulga��o |
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O cr�tico liter�rio Harold Bloom, 83 |
Quarenta anos ap�s a publica��o de "A Ang�stia da Influ�ncia" (1973), obra que, para al�m da literatura, mudou o estudo das reverbera��es de um artista em outro, ele chega a uma f�rmula m�nima: "Influ�ncia � amor liter�rio", aquilo que ao mesmo tempo afasta e aproxima autores fortes uns dos outros.
A entrevista ocorreu na casa de Bloom, com o som de "Concertos de Brandenburgo", de Bach, ao fundo. No c�modo ao lado, Jeanne, sua mulher, tentava fazer o computador funcionar com a ajuda de um aluno.
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Folha - Em "A Anatomia da Influ�ncia" voc� define influ�ncia como "amor liter�rio, temperado pela defesa". � poss�vel dizer que sua �nfase nos anos 1970 estava em "defesa", e agora em "amor liter�rio"?
Harold Bloom - Quando escrevi "A Ang�stia da Influ�ncia", havia a cren�a universal de que toda influ�ncia po�tica era um processo benigno. Por isso era necess�rio enfatizar o negativo, o que foi mal compreendido.
Este livro � diferente. � uma suma pessoal feita em uma idade em que a gente sabe que pode morrer a qualquer hora, mas ainda tem tempo de resumir para si o que acredita ser a sua contribui��o.
O que � "amor liter�rio"?
Voc� est� apaixonado? Mesma coisa. Incluindo inevit�veis ambival�ncias, dificuldades, incompreens�es.
Seu curso sobre Shakespeare tem seis aulas sobre "Rei Lear". Como � analisar Lear depois dos 80?
As duas pessoas mais velhas da obra de Shakespeare s�o sir John Falstaff e rei Lear, ambos com mais de 80. Caminho para completar 84. Sempre adorei Falstaff.
Lear � o maior representante em toda a literatura ocidental da autoridade paterna, que a maioria das sociedades confere �s figuras do rei e de Deus. A melhor coisa dita na pe�a sobre Lear � que "ele sempre se conheceu muito pouco". N�o h� autoconhecimento, e esse � um erro que os cr�ticos que o idealizam cometem.
Como v� a rela��o da leitura com as tecnologias visuais?
� dif�cil. � mais dif�cil ainda para a sua gera��o se desligar do visual do que para mim e Jeanne [mulher de Bloom]. Nada disso existia quando �ramos jovens. Quer dizer, o cinema sim, mas a TV mal existia, n�o me lembro. E o computador, claro, muito mais importante que a tela de cinema ou da TV e que usurpou o lugar de ambas, n�o existia de forma generalizada at� 25 anos atr�s.
Por isso encorajo estudantes a lerem em voz alta, a irem a um lugar onde possam ficar sozinhos e ler em voz alta.
Ler de verdade, ler Shakespeare (1564-1616), ou os poetas Wordsworth (1770-1850, ingl�s), ou Wallace Stevens (1879-1955, americano) ou Hart Crane (1899-1932, americano), algum escritor dif�cil, � um processo extremamente ativo no qual voc� tem que lutar com todas as suas faculdades, mesmo se n�o puder compreender tudo, para tirar mais daquilo.
J� com o visual, mesmo que exista algo como olhar de forma reativa (n�o que eu saiba muito sobre isso, n�o sou guiado pelo visual, sou orientado puramente pelo verbal), com o visual � muito f�cil relaxar e ser passivo. Voc� n�o pode ler passivamente.
Como v� o governo Obama?
Tudo indica que Obama ampliou o programa de vigil�ncia dos EUA. Nesse tema, se situa � direita do idiota George Bush. Um imenso desapontamento.
Sua teoria da influ�ncia enfrentou resist�ncias de formalistas, de especialistas em grupos marginalizados e dos que interpretam politicamente seu foco no combate entre autores. Como trata isso hoje?
Se respondesse a todas as provoca��es, n�o seria mais capaz de ler, escrever ou ensinar. A notoriedade tem o seu aspecto positivo, mas voc� perde tanto quanto obt�m dela. Hoje n�o respondo mais.
� bobagem acreditar que voc� pode beneficiar grupos insultados, explorados ou desfavorecidos lendo e ensinando a ler obras menores s� por causa da pigmenta��o da pele, orienta��o sexual, g�nero ou origem �tnica.
Os departamentos de l�ngua e literatura inglesa t�m s� 20% do n�mero de alunos que tinham h� 30 anos. Ocasionalmente vejo a lista dos cursos e sinto um calafrio. Vejo pessoas que n�o passam de vendedores de lixo sendo contratadas. Mas no m�ximo em cinco anos estarei morto ou incapacitado. E muita gente respirar� aliviada.
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