"Vivemos um momento pol�tico extraordin�rio", diz historiador brit�nico sobre manifesta��es
"A experi�ncia brasileira nessas �ltimas tr�s semanas representa um momento extraordin�rio na pol�tica mundial, marcada por crises de representatividade democr�tica", afirmou o historiador brit�nico T. J. Clark nesta noite de s�bado (6), na Flip.
Numa mesa marcada por �nimos marxistas, tr�s pensadores de esquerda se reuniram para discutir as aspira��es e caracter�sticas dos protestos que tomaram o Brasil nas �ltimas semanas: al�m de Clark, estavam presentes o fil�sofo e colunista da Folha Vladimir Safatle e o psicanalista Tales Ab'Saber. O debate, que teve media��o do jornalista Mario Sergio Conti, ex-diretor da revista Veja e apresentador do Roda Viva, come�ou com 25 minutos de atraso (o que estranhamente n�o gerou protestos) e foi marcado pela conflu�ncia de opini�es entre os participantes e a plateia.
Autor de Uma esquerda sem futuro (ed. 34), T. J. Clarke come�ou citando o poeta caribenho Derek Walcott, que, no poema "A Sea Change", fala sobre a inquieta��o pol�tica e a "raiva sombria e agregadora de um eleitorado ferido, cansado das imagens de outdoors". Ele interpretou as manifesta��es no Brasil como um rep�dio ao que chamou de "igrejas do futebol", catedrais esportivas cada vez maiores e mais caras que o governo imp�e ao povo. Ao longo da hist�ria, pal�cios, est�tuas e pir�mides - e agora, est�dios - foram utilizados para subjugar as massas.
"A for�a das imagens � uma decorr�ncia da falta de for�a do povo nas outras esferas", afirmou. "� poss�vel resistir a essa coloniza��o? Espero que sim. Acho que sim", disse Clark, que, a certa altura, chegou a sugerir que os brasileiros fossem �s ruas protestar contra a realiza��o da Copa do Mundo.
O brit�nico ressaltou que, nos protestos atuais, existe uma tentativa de elevar os cartazes feitos � m�o como leg�timas imagens do povo, numa transfer�ncia simb�lica de poder.
Ele encara o movimento como algo positivo, mas perigoso, na medida em que deu voz a fantasias antipartid�rias.
IMAGEM ER�TICA DO HOMEM LULA
Autor de A esquerda que n�o ousa dizer seu nome (Publifolha), Vladimir Safatle comemorou a volta da pol�tica �s ruas. "Os �ltimos vinte anos foram um hiato na participa��o popular brasileira, per�odo de exce��o em que a pol�tica foi relegada aos bastidores. Mas a onda de protestos recolocou na pauta as demandas das ruas, abrindo novos eixos de conflito e embates democr�ticos", afirmou. A insatisfa��o atual, para Safatle, decorre de uma crise de representa��o, do esgotamento das possibilidades da democracia parlamentar. "Queremos combater a desigualdade econ�mica por meio de servi�os p�blicos de qualidade, e � importante colocar isto de forma s�ria".
Safatle falou tamb�m da pol�tica de virtude baseada no bem comum, reivindicada por quem deseja que "o �ltimo mensaleiro petista seja enforcado nas tripas do �ltimo tucano corrupto". (Nesse momento, foi crivado de aplausos.) Disse que a democracia � sempre um porvir e demanda um constante reordenamento do estado de direito, que n�o tem como responder por toda e qualquer nova demanda do povo.
Sob a perspectiva da psican�lise, Tales Ab'Saber falou da "imagem er�tica do homem Lula" e se mostrou empolgado com o momento hist�rico. "Temos um movimento de movimentos, ou seja, um produtor de outros movimentos", explicou ele, que � autor de um livro sobre o fen�meno do lulismo publicado pela editora Hedra.
Ab'Saber elogiou a vis�o pol�tica dos "meninos" do Movimento Passe Livre, que utilizaram um verdadeiro padr�o de an�lise marxista ao diagnosticarem as falhas da m�quina da nossa democracia, os pontos nevr�lgicos que podiam ser trabalhados com vistas a agregar demandas e abalar o governo --o caso, a pauta escolhida foi a briga contra o aumento da tarifa e a discuss�o sobre transporte p�blico. De quebra, o movimento abriu um debate sobre a militariza��o da pol�cia de S�o Paulo, oriunda da ditadura, uma for�a de exce��o e ilegalidade que "precisa come�ar a agir dentro da lei". Ele fez quest�o de dizer que grande parte da civiliza��o se fundou a partir de conflitos e que este � um caminho leg�timo.
Clark concordou com a an�lise pol�tica de Ab'Saber, mas discordou terminantemente de sua vis�o otimista das novas m�dias. Animado, o psicanalista brasileiro afirmou que o celular e as redes sociais trouxeram uma gest�o flex�vel da nova pol�tica, aumentando em muito a potencialidade da democracia direta. O historiador brit�nico rebateu dizendo que m�dias sociais podem ser instrumentos poderosos --como o capitalismo--, mas se limitam ao virtual e isolam o indiv�duo. Clark relaciona a estagna��o pol�tica brasileira nos �ltimos vinte anos ao decl�nio da for�a dos sindicatos e pediu que as m�dias sociais levassem o movimento �s ruas.
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