Biografia e textos in�ditos celebram os 120 anos de Graciliano Ramos
Graciliano Ramos, fosse ainda vivo, teria motivos de sobra para ficar acanhado nos pr�ximos meses.
Sertanejo de alma desconfiada, o escritor alagoano era avesso � autopromo��o e tinha por costume depreciar a pr�pria obra.
Mas, a partir da pr�xima semana, duas efem�rides colocar�o o autor de "Vidas Secas" no centro das aten��es.
Ele faria 120 anos no dia 27. Em 20 de mar�o de 2013, sua morte completa 60 anos.
Iniciando as celebra��es, chegam �s livrarias uma nova edi��o da biografia "O Velho Gra�a", de D�nis de Moraes, e "Garranchos"�, colet�nea de textos in�ditos em livro organizada por Thiago Mio Salla.
A Record, que edita a obra do autor, tamb�m vai promover semin�rios sobre ele. Em 2013, novos eventos est�o programados.
Divulga��o | ||
O escritor Graciliano Ramos, que completaria 120 anos |
Os apreciadores da obra do escritor bem sabem que os festejos s�o mais do que justos. Graciliano, talvez, pudesse ach�-los excessivos para um "literato med�ocre", como se referia a si pr�prio.
"Mas isso era tudo da boca para fora, ele tinha completa consci�ncia do valor da pr�pria obra", esclarece o bi�grafo D�nis de Moraes.
Elucidar mitos que cercam Graciliano foi a motiva��o do professor de estudos culturais e m�dias da UFF ao publicar "O Velho Gra�a" h� 20 anos, por ocasi�o do centen�rio do autor.
O t�tulo narra com detalhes saborosos o processo de cria��o, os embates pol�ticos, as dificuldades financeiras e a vida familiar do escritor.
A nova edi��o preserva, nas contas do professor, 90% do texto original. O restante � ocupado por tr�s acr�scimos que, acredita, ajudam a delinear o perfil do artista.
O primeiro deles traz trechos de cinco das raras entrevistas que o autor concedeu.
Em uma delas, na qual o jornalista Homero Senna praticamente la�ou o fugidio escritor durante uma caminhada pelo Rio, Graciliano s� soltou a l�ngua depois da segunda dose de cacha�a.
Os outros dois acr�scimos abordam a conturbada rela��o do escritor com a ditadura de Get�lio Vargas. Em 1936, Graciliano foi v�tima de um "arrast�o" promovido pelo governo para prender pessoas associadas ao comunismo. Permaneceu encarcerado por dez meses, mesmo sem que houvesse acusa��o formal contra ele.
Moraes relata que Graciliano e Vargas se encontraram uma �nica vez, durante um passeio noturno, meses depois de o escritor sair da cadeia. "Boa-noite", cumprimentou Vargas. Graciliano prosseguiu sem nada dizer.
"Passou em sil�ncio por seu algoz. Foi uma demostra��o do estilo graciliano: contido, mas firme e implac�vel", conta o bi�grafo.
NOVAS FACETAS
Outro t�pico resgata a hist�ria da carta que escreveu a Vargas, mas nunca enviou, em agosto de 1938.
No texto, Graciliano fazia um relato bastante ir�nico de sua passagem pela pris�o e tratava o presidente como um colega de profiss�o --na �poca, Vargas lan�ava um livro com seus discursos.
"Ficou a imagem de que fosse um homem pessimista, intrat�vel. Mas ele tinha uma fina ironia, era um homem terno, rom�ntico", diz Moraes.
� tamb�m m�ltiplo o Gra�a --como era chamado pelos amigos-- que salta das p�ginas de "Garranchos".
O pesquisador Thiago Mio Salla reuniu em livro 81 textos in�ditos escritos entre 1910 e 1950. Al�m de cr�nicas, cr�ticas e discursos, h� um conto, "O Ladr�o" (1915), e o primeiro ato da pe�a "Ideias Novas" (1942), que nunca seria conclu�da.
Agrupados em ordem cronol�gica, os textos flagram a trajet�ria intelectual de Graciliano e as quest�es pol�ticas em que esteve envolvido.
Colaborando com publica��es do Estado Novo, por quest�es financeiras, ou do Partido Comunista, por ideologia, sempre preservou, ainda que a duras penas, sua independ�ncia art�stica.
"As diretrizes do PCB para a literatura eram muito restritivas. Alguns textos, ainda que de forma velada, deixam evidentes as tens�es com o partido", conta Salla.
Outra curiosidade s�o os textos de juventude, nos anos 1920, que descortinam um Graciliano galhofeiro como poucos vezes se ver� depois.
No jornal "O �ndio", em Palmeira dos �ndios (AL), ele comentava, em tom zombeteiro, muitos dos problemas da cidade, j� antecipando sua atua��o como prefeito.
Nos dois anos que passou administrando Palmeira, notabilizou-se pelo rigor nos gastos p�blicos e ganhou fama pela qualidade liter�ria dos relat�rios de sua gest�o.
"Por qualquer �ngulo que se analise, seja obra ou vida p�blica, � dif�cil n�o admirar Graciliano", avalia Moraes.
Mais um elogio que deixaria o modesto escritor mais do que encabulado.
RAIO-X GRACILIANO RAMOS
VIDA
Nasce em 27/10 /1892 em Quebrangulo, em Alagoas. Morre de c�ncer do pulm�o, no Rio, em 20/3/1953
POL�TICA
Em 1928 torna-se prefeito de Palmeira dos �ndios (AL). Os rigorosos relat�rios de presta��o de contas de sua gest�o ficariam famosos pela qualidade liter�ria
PRINCIPAIS LIVROS
"Caet�s" (1933), "S�o Bernardo" (1934), "Ang�stia" (1936), "Vidas Secas" (1938), "Inf�ncia" (1945), "Mem�rias do C�rcere" (1953)
PRIS�O
Em 1936 � detido em Macei� durante "arrast�o" promovido pelo governo Vargas para prender pessoas associadas ao comunismo. Fica encarcerado por dez meses no Estado do Rio
COMUNISMO
Filia-se ao PCB em 1945. Em 1952 visita a Uni�o Sovi�tica
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