Oscar consolida o cinema argentino
"Nunca fui bom fazendo esses c�lculos. Vou adorar se meu novo filme atrair muita gente, mas duvido que um fen�meno como 'O Segredo dos Seus Olhos' volte a se repetir t�o cedo", diz o cineasta argentino Pablo Trapero � Folha ao final de uma tarde em que passou ao lado de Ricardo Dar�n, protagonista de "O Segredo" e de seu mais novo filme, "Carancho".
Para Dar�n, o Oscar recebido pelo projeto de Juan Jos� Campanella foi algo "milagroso". Representante de uma est�tica popular na Argentina, em que o realismo se une ao drama sem desprezar pitadas de humor, o filme � hoje o "santo" de uma cinematografia que vem fazendo milagres tamb�m dentro de casa.
At� agora, "O Segredo", ao lado de "As Vi�vas das Quintas-Feiras" (Marcelo Pi�eyro), fez com que a ocupa��o do cinema nacional dentro de seu pr�prio territ�rio alcan�asse 58,3% do mercado total de espectadores.
Em 2008, a cota de mercado para filmes nacionais na Argentina foi de 13,4% dentro de um universo total de 4 milh�es de espectadores. O pa�s, que conta com 878 salas de cinema, tem seu p�blico padr�o composto por menores de 35 anos (classes m�dia e alta), segundo a pesquisa "Consumos Culturais 2006", realizada pelo governo federal argentino.
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Cena do filme "Do Outro Lado da Lei", longa-metragem do argentino Pablo Trapero, que critica o sistema policial |
Diversidade e incentivo
Para os profissionais do setor, o reconhecimento internacional conquistado pelo cinema argentino se deve basicamente a tr�s fatores: diversidade, incentivo estatal e profissionaliza��o, consequ�ncia direta do aumento no n�mero de escolas de cinema.
Trapero tem uma resposta mais simples: "Acredito na for�a dos filmes. Como espectador, me sinto pr�ximo de hist�rias que me emocionam", diz. "Os filmes se aproximam muito da vida cotidiana e ultrapassam o evento art�stico."
Em m�dia, a cada ano s�o produzidos cem longas no pa�s. "A Argentina tem uma importante tradi��o cultural. Era inevit�vel que o cinema argentino explodisse artisticamente", diz Juan Villegas (de "S�bado").
O incentivo estatal � outro item imprescind�vel, avalia. "A lei modificada em 1994 permitiu que se possa produzir com um relativamente escasso risco comercial. Isso gera uma excessiva depend�ncia do Estado, mas por outro lado permite que se possa fazer filmes sem press�es comerciais excessivas."
De acordo com estudo do Instituto de Pol�ticas Culturais da Universidade Nacional de Tres de Febrero, "a produ��o cinematogr�fica se converteu no principal objetivo da pol�tica cultural estatal dos �ltimos anos. De fato, o Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais, com um or�amento de 82 milh�es de pesos para 2005, disp�s de um gasto equivalente ao de toda a Secretaria de Cultura".
Democratiza��o
Tamb�m ao longo das �ltimas duas d�cadas, institutos de ensino dedicados ao cinema se multiplicaram --estima-se 15.550 estudantes no pa�s.
"As escolas de cinema possibilitaram o surgimento de camadas de diretores e t�cnicos muito preparados", diz Celina Murga ("Ana e os Outros"), cineasta argentina que foi eleita por Martin Scorsese no ano passado para trabalhar no set de filmagem de "Ilha do Medo".
"Ao se transformar em estudo universit�rio, o cinema passa por democratiza��o. Parece ser algo que vai se solidificando, que vai deixando de ser moda."
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