Pintor Marc Chagall se moldou russo, judeu e franc�s
Marc Chagall nasceu em Vitebsk, que atualmente pertence a Belarus. � �poca de seu nascimento, em 1887, Vitebsk era uma das cidadezinhas judaicas -- shtetlech -- no Territ�rio do Assentamento, �rea ocidental do Imp�rio Russo onde era permitida a resid�ncia de judeus.
Ali, Catarina a Grande havia instalado, pouco menos de cem anos antes do nascimento de Chagall, um bols�o para tentar impedir o acesso dos judeus �s demais �reas de seu imp�rio, uma vez que n�o se converteriam ao catolicismo ortodoxo russo nem cabiam bem na r�gida estratifica��o social russa.
Proibidos tamb�m de morar nas cidades mais importantes da regi�o, como Kiev e Ialta, pequenos comerciantes se instalavam na �rea que chegou a reunir cerca de 5 milh�es de pessoas e sobreviveu at� a Revolu��o Russa, em 1917.
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"Estudo sobre Vitebsk" (1915-20), de Marc Chagall; que morou em Paris, Nova York e Vitebsk, na R�ssia |
Marc Chagall, por�m, travou uma rela��o de tal modo umbilical com a sua cidade natal que precisava sair dali para enxerg�-la direito. "Ele admitiu que era um artista obcecado pela m�e e para quem a cidade natal teve forte import�ncia psicol�gica e art�stica", ressalta a jornalista inglesa Jackie Wullschlager, autora da biografia conclu�da no ano passado, ap�s oito anos de pesquisa e lan�ada agora no Brasil.
"Quando terminei a 'Life of Hans Christian Andersen' [a vida de Hans Christian Andersen] em 2000, estava pensando, com o fim do s�culo 20, qual figura liter�ria ou art�stica formaria um prisma ideal atrav�s do qual poderia recontar, tanto na vida quanto na arte, os triunfos e horrores do s�culo."
Chagall, que tinha impressionado a ent�o cr�tica liter�ria numa exposi��o na Royal Academy, de Londres, em 1985 -- e morrera pouco antes do fim da mostra -- apareceu a Wullschlanger a op��o ideal.
O pintor viveu clandestinamente em S�o Petersburgo, encontrou um lar art�stico em Paris -- e apoio em figuras ic�nicas da cultura francesa daquele come�o de s�culo, como os escritores Blaise Cendrars e Guillaume Apollinaire -- e chegou a ser convocado para engrossar as fileiras do Ex�rcito para defender o Imp�rio Russo, aquele mesmo que o repelia para as franjas de seu territ�rio.
"O drama de ser estrangeiro na R�ssia e na Fran�a fez com que nunca esquecesse sua origem judia. � significativo que seus maiores trabalhos tenham sido produzidos entre 1917-21, quando houve espa�o para que os judeus desempenhassem um papel vital e aut�ntico na vida cultural russa."
A identidade judaica, ligada � mem�ria de Vitebsk, era indissoci�vel do pintor. "Se eu n�o fosse judeu, n�o teria me tornado artista ou teria sido um outro tipo de artista", ele mesmo dizia. "A obra de Chagall teve seu auge quando Vitebsk ainda o embalava, de 1914 a 21, mas j� com a experi�ncia de Paris para ter algum distanciamento e adquirir a linguagem formal com a qual desconstruiria Vitebsk", diz a bi�grafa.
El Lissitsky, nome essencial da vanguarda russa, era colega de Chagall nas aulas de pintura. Kandinsky, embora distante, percorria caminhos parecidos.
Chagall adotou e foi adotado pela Fran�a. O pintor "se tornou um luminar da arte nacional numa �poca em que esse pa�s finalmente perdia seu �mpeto cultural diante dos EUA".
Ao lado das cidades, Chagall inscreve em sua forma��o tr�s mulheres: Thea, seu primeiro modelo nu, Bella, amor arrebatador e companheira nas costuras pela Europa, morta no ex�lio americano, e Vava, que o acompanhou at� o fim da vida.
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