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EXTREME REALITY
Programas que mostram cenas reais gravadas em momentos de pânico se multiplicam na TV
Adrenalina pura dá ibope
Divulgação
![](https://cdn.statically.io/img/www1.folha.uol.com.br/../images/tv2005012001.jpg) |
As caçadas policiais ganharam um programa à parte, exibido às terças pelo canal USA |
MARCELO MIGLIACCIO
DA REDAÇÃO
A TV brasileira descobriu um filão
no gênero "extreme reality", ou realidade total. São os programas ilustrados
por imagens captadas por cinegrafistas
-amadores ou não- e por câmeras de
circuitos fechados instalados nos mais
diferentes lugares. Nos canais pagos, essas atrações estão por toda parte e, na TV
aberta, a Band consegue bons índices de
audiência exibindo o "World's Most
Amazing Videos" ("Os Vídeos Mais Incríveis do Mundo"), um dos quatro programas da emissora mais vistos na Grande São Paulo entre 9 e 15 de abril, com
cerca de 320 mil telespectadores.
É difícil não deixar quieto o controle
remoto quando surge na tela a imagem
real de uma mulher pendurada no alto
de uma roda-gigante, de um piloto saltando segundos antes de seu jato se espatifar no solo ou ainda de um operário
sendo atingido por uma descarga elétrica. A exemplo de quase todos os similares, o "World's Most Amazing Videos",
também exibido pelo canal pago AXN,
costura imagens desse tipo -compradas pela produção por menos de US$ 150
mundo afora- com textos que abusam
dos adjetivos e depoimentos de gente
que sobreviveu para contar a história.
O sucesso é tanto que, além das incontáveis reprises, as mesmas imagens do
programa foram requentadas em outro
enlatado, "Quando a Diversão Acaba".
Nele, há duas semanas, foram ao ar cenas
de uma corrida de carros em um subúrbio do Rio de Janeiro em que um espectador acabou atropelado. O flagrante exibido levava a logomarca da TV Globo.
"O mérito desses programas é pinçar
momentos especiais, sempre de muito
impacto", diz o documentarista Nelson
Hoineff, 50, que dirigiu os jornalísticos
"Documento Especial" (SBT e Band) e
"Realidade" (Band). Hoineff conta que
sempre se rende a essas imagens quando
vasculha a programação, mas faz uma
ressalva: "O problema é que tudo está fora de qualquer contexto, são coletâneas".
Nem sempre. Há programas, como o
"Anatomia do Desastre" (Discovery
Channel), que dedicam quase uma hora
a determinados tipos de tragédias naturais -furacões, terremotos, erupções
vulcânicas. Sempre com imagens feitas
em meio ao pânico do momento.
Para o sociólogo e professor do Departamento de Jornalismo da ECA-USP,
Laurindo Leal Filho, esses programas fazem a transição do jornalismo informativo para o show de variedades. "Trata-se
de fatos que foram notícia e agora são
concentrados. Atraem gente de qualquer
classe social por tratarem de situações-limite a que todos estamos sujeitos. Despertam no telespectador até um certo
conforto por ele não estar lá naquela hora", afirma Leal Filho, para quem a TV
tem se mostrado pródiga em jogar com o
lado mórbido do público.
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