São Paulo, domingo, 20 de maio de 2001

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EXTREME REALITY

Programas que mostram cenas reais gravadas em momentos de pânico se multiplicam na TV

Adrenalina pura dá ibope

Divulgação
As caçadas policiais ganharam um programa à parte, exibido às terças pelo canal USA


MARCELO MIGLIACCIO
DA REDAÇÃO

A TV brasileira descobriu um filão no gênero "extreme reality", ou realidade total. São os programas ilustrados por imagens captadas por cinegrafistas -amadores ou não- e por câmeras de circuitos fechados instalados nos mais diferentes lugares. Nos canais pagos, essas atrações estão por toda parte e, na TV aberta, a Band consegue bons índices de audiência exibindo o "World's Most Amazing Videos" ("Os Vídeos Mais Incríveis do Mundo"), um dos quatro programas da emissora mais vistos na Grande São Paulo entre 9 e 15 de abril, com cerca de 320 mil telespectadores.
É difícil não deixar quieto o controle remoto quando surge na tela a imagem real de uma mulher pendurada no alto de uma roda-gigante, de um piloto saltando segundos antes de seu jato se espatifar no solo ou ainda de um operário sendo atingido por uma descarga elétrica. A exemplo de quase todos os similares, o "World's Most Amazing Videos", também exibido pelo canal pago AXN, costura imagens desse tipo -compradas pela produção por menos de US$ 150 mundo afora- com textos que abusam dos adjetivos e depoimentos de gente que sobreviveu para contar a história.
O sucesso é tanto que, além das incontáveis reprises, as mesmas imagens do programa foram requentadas em outro enlatado, "Quando a Diversão Acaba". Nele, há duas semanas, foram ao ar cenas de uma corrida de carros em um subúrbio do Rio de Janeiro em que um espectador acabou atropelado. O flagrante exibido levava a logomarca da TV Globo.
"O mérito desses programas é pinçar momentos especiais, sempre de muito impacto", diz o documentarista Nelson Hoineff, 50, que dirigiu os jornalísticos "Documento Especial" (SBT e Band) e "Realidade" (Band). Hoineff conta que sempre se rende a essas imagens quando vasculha a programação, mas faz uma ressalva: "O problema é que tudo está fora de qualquer contexto, são coletâneas".
Nem sempre. Há programas, como o "Anatomia do Desastre" (Discovery Channel), que dedicam quase uma hora a determinados tipos de tragédias naturais -furacões, terremotos, erupções vulcânicas. Sempre com imagens feitas em meio ao pânico do momento.
Para o sociólogo e professor do Departamento de Jornalismo da ECA-USP, Laurindo Leal Filho, esses programas fazem a transição do jornalismo informativo para o show de variedades. "Trata-se de fatos que foram notícia e agora são concentrados. Atraem gente de qualquer classe social por tratarem de situações-limite a que todos estamos sujeitos. Despertam no telespectador até um certo conforto por ele não estar lá naquela hora", afirma Leal Filho, para quem a TV tem se mostrado pródiga em jogar com o lado mórbido do público.


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