São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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AMAZÔNIA
Considerado afrodisíaco, autêntico fruto brasileiro é símbolo da cidade, distante 160 km de Manaus
Guaraná alimenta tradição em Maués

ROBERTO DE OLIVEIRA
em Maués (AM)

A história de uma criança indígena, admirada pelos deuses e amada por sua tribo, gerou uma das lendas mais difundidas na Amazônia sobre a origem de um autêntico fruto brasileiro: o guaraná, símbolo da pequena Maués.
Encravada no meio do floresta, a cerca de 260 km da capital, a cidade de Maués ostenta uma festa anual em homenagem ao guaraná, que ocorre em novembro e atrai gente de diversos cantos, além de cultivar e difundir uma série de fábulas sobre sua procedência e preparo.
A lenda indígena de maior repercussão em Maués narra que essa criança querida teria sido picada por uma cobra, uma cascavel, na verdade, o gênio do mal disfarçado. Não conseguiu, apesar dos apelos constantes dos colegas aos deuses, resistir.
Angustiados, os integrantes da tribo estudaram uma forma de eternizar na memória de seu povo a passagem daquela criança, que atraia fertilidade e bons fluídos entre os mortais indígenas.
Os pais decidiram então enterrar a criança no meio da floresta amazônica, caminho obrigatório para a sobrevivência dos índios, pois é a floresta e os seus rios que mantêm a vida das aldeias.
O guaraná, desconhecido até então, teria nascido dos olhos dessa criança morta, diz a lenda.
Outras versões sustentam que uma voz do além determinou que retirassem os olhos da criança e os plantassem em terra firme. As lágrimas dos componentes da tribo dos índios maués teriam que regar o espaço. De lá, teria surgido uma planta símbolo da vida: o guaraná, esperta, serelepe como uma criança, querendo subir em outras árvores.

Afrodisíaco
Há ainda outras histórias voltadas para a característica afrodisíaca do guaraná, alimento comprovadamente energético. Uma delas, contada pelos moradores de Maués, fala de uma bela índia apaixonada por um inimigo mortal de sua tribo.
Impossibilitado de frutificar o romance, o casal trama um encontro secreto na floresta, bem distante da reprovação e do desprezo das duas tribos rivais.
No momento mais aguardado pelos apaixonados, quando os dois estavam se amando, foram surpreendidos por um forte temporal na floresta.
Como um sinal de revolta dos deuses, um raio provocou a queda de uma árvore secular, que atingiu o casal.
Somente os esqueletos dos dois amantes foram encontrados. A lenda contada em Maués sustenta que no lugar dos olhos da índia saiu uma planta de guaraná.

O refrigerante
Depois de ser colhido em matas e plantações de cultivo, o cacho de guaraná fica armazenado, fermentando durante três dias, para que seja iniciado o processo de produção do refrigerante. Após esse período, a fruta é separada do cacho de guaraná e lavada, etapa que separa o arilo (parte branca) da semente (parte preta).
Na sequência, a semente é torrada, como café, e em seguida, moída. O resultado desse processo é o extrato de guaraná, que segue para as fábricas de essências. Lá, é analisado e combinado com outras essências de frutas cítricas. A partir dessa combinação sai o concentrado de guaraná, destinado à produção da bebida. No Amazonas, ela é muito mais forte.


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