São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011 |
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Fumar maconha acelera início da esquizofrenia Segundo estudo, usuários têm sintomas três anos antes do que os não usuários Quem tem predisposição à doença é mais suscetível aos efeitos da droga, conforme hipótese GUILHERME GENESTRETI DE SÃO PAULO Fumar maconha pode adiantar em quase três anos o aparecimento de esquizofrenia e de outros quadros psicóticos. A conclusão é de uma revisão de 83 estudos científicos já publicados sobre a relação entre o consumo dessa erva e o transtorno. Os resultados, divulgados no periódico médico "Archives of General Psychiatry", dão mais munição a pesquisadores que se opõem à liberação da substância ilícita. Os pesquisadores das universidades de New South Wales, Austrália, e Emory, EUA, avaliaram dados de 22 mil portadores de distúrbios psicóticos -sendo 8.167 deles usuários da droga. A doença aparecia em média 2,7 anos antes entre quem consumia a erva do que nos membros do grupo-controle. "Acredito que essa relação seja de causa e consequência, e a maconha tem um papel importante [no aparecimento precoce do transtorno] em certas pessoas", disse à Folha o psiquiatra australiano Matthew Large, um dos autores do estudo. Uma hipótese é que pessoas com predisposição genética para esquizofrenia são mais suscetíveis à influência da maconha. Nelas, os quadros psicóticos poderiam ser desencadeados pela alteração na concentração de neurotransmissores como dopamina e serotonina, causada pela droga, o que desregularia o funcionamento cerebral. "Pessoas com histórico familiar de esquizofrenia devem ser instruídas a jamais usar essa droga. Não dá pra arriscar", diz Hélio Elkis, coordenador do Projeto Esquizofrenia do Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo o psiquiatra, quanto mais cedo aparece a doença, pior o prognóstico. "Se surge na adolescência, o cérebro não teve tempo de se desenvolver completamente." Isso piora o deficit cognitivo, próprio do transtorno. ANSIOLÍTICO Mas para Marcelo Niel, psiquiatra do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, deve-se ter cuidado ao fazer a relação direta entre esquizofrenia e uso da cânabis. "Em pacientes com vulnerabilidade, isso pode acontecer, mas há fatores que devem ser considerados." Niel afirma que, como a esquizofrenia geralmente começa quando os indivíduos são adolescentes ou adultos jovens, pode ser que o consumo da substância esteja mais relacionado a um hábito do grupo social naquela idade do que a uma causalidade. "E muitos pacientes esquizofrênicos começam a fumar maconha para aliviar os sintomas do estágio inicial da doença, como ansiedade e depressão", diz. Matthew Large, o autor do estudo, sugere: "Jovens deveriam evitar o uso de maconha ou, mais precisamente, deveriam se conscientizar sobre os seus riscos. Como informá-los disso já é outra história", completa. Próximo Texto: Análise: "Guerra" de estudos ganhou munição na última década Índice | Comunicar Erros |
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