São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAINEL DO LEITOR

Símbolos
"Ao retirar símbolos religiosos de edifícios públicos, o prefeito de Ponte Nova (MG) defende a laicidade do Estado, merecendo apoio, e não incompreensão. Há, assim, ressalvas ao artigo de dom Luciano Mendes de Almeida de 22/1 ("Respeitar valores e símbolos religiosos'). Como aceitar que exista símbolo sagrado de um grupo e não de outro no espaço público? Como poderá uma professora, um funcionário, trabalhar senão com o sentido de servidor do bem público? Como pedir ao magistrado que julgue ou ao legislador que legisle se pairam sobre suas cabeças símbolos de outros valores que não os da Constituição? A conquista da democracia depende da liberdade de consciência e de crença, direitos inalienáveis inscritos na Constituição Federal, a explicar o caráter laico do Estado brasileiro. O fundamento da laicidade jamais será estatístico ou matéria de fé, pois cabe ao Estado proteger e promover os direitos fundamentais de todo e cada cidadão. A laicidade é pilar de nossa República desde 1891. Com os 400 anos de ligação com o poder, a Igreja Católica talvez se sinta ainda parte do Estado, com dificuldade para reconhecer o igual direito de todas as religiões. Compatibilizar dentro do cidadão os princípios da ordem constitucional e os seus próprios princípios será sempre assunto da consciência de cada um, mas sem que o espaço público embarace esse exercício, sob pena de disseminar preconceito e discriminação e de tolher o direito à liberdade de crença e de consciência dos cidadãos."
Roseli Fischmann, professora-doutora do programa de pós-graduação em educação da USP e ex-integrante da Comissão Especial do Estado de São Paulo sobre Ensino Religioso em Escolas Públicas -1995-96 (São Paulo, SP)

Passado, presente, futuro...
"O presidente da Fundação Padre Anchieta, Marcos Mendonça, extinguiu a Sinfonia Cultura, orquestra que tem uma linda história dedicada à música erudita brasileira e se preocupa com a formação de público. O fato em si já é condenável, especialmente quando se sabe que o custo de manutenção da orquestra é muito baixo. Mas a justificativa do presidente preocupa mais ainda. Segundo ele ("Painel do Leitor", 26/1), a prioridade da fundação é a digitalização de seu acervo. Digitalizar é, indiscutivelmente, uma boa meta, mas será que ela não poderia esperar um pouco? Enquanto isso, haveria a possibilidades de encontrar saídas financeiras que garantissem a vida da orquestra. Para preservar a memória do passado, destrói-se, no presente, o futuro de uma orquestra. É um raciocínio que assusta." Maria Ligia Coelho Prado, professora do Departamento de História da USP (São Paulo, SP)

Desigualdades
"Respeito e admiro a ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, principalmente por sua capacidade de tratar como território quase exclusivo do seu partido, o PT, "a mobilização para institucionalizar as demandas por melhores condições de vida para os negros" -como escreveu no artigo da pág. A3 em 28/1. Mas não é verdade absoluta que o governo Lula, ao decretar 2005 como o Ano da Promoção da Igualdade Racial, pretenda dar relevância a isso. Basta examinar o Orçamento da União de 2005, muito bem analisado pelo economista Mário Theodoro em artigo publicado em Brasília no jornal "Irohín" (novembro/2004). Ali, o economista revela que os valores previstos para a Seppir foram reduzidos em quase R$ 1 milhão em comparação com o Orçamento de 2004. Em seu artigo, a ministra nem de leve -"of course'- toca no assunto." Fernando Conceição, jornalista, membro fundador do MPR -Movimento pelas Reparações dos Afrodescendentes no Brasil- e professor da Faculdade de Comunicação da UFBA (Salvador, BA)

"Li o artigo da ministra Matilde Ribeiro e não posso deixar de comentá-lo. Sou professora de história da Prefeitura de São Paulo na região do Jardim Ângela e venho encampando a luta pelo direito a cotas para afrodescendentes na universidade pública. Tenho, na escola em que trabalho, muitos jovens talentosos, muita gente de grande capacidade. Mas, pela forma injusta como se organiza a nossa sociedade, esses negros nunca -ou dificilmente- terão oportunidade de revelar seus talentos e capacidades, porque, além de todas as condições a que estão submetidos, existe ainda, como conseqüência dessa situação, a cultura de não acreditarem em si mesmos, de acharem que não são capazes, como se suas sinas já estivessem traçadas. Como sabemos, "o Estado brasileiro (...) optou por negar as evidências do cotidiano", as estatísticas evidenciam um racismo velado, cruento, visceral! Quando o menino negro, lá dos rincões da pobreza, puder observar o negro brasileiro nos consultórios, na mídia televisiva, na direção de empresas, lecionando nas universidades, enfim, "protagonizando", sua relação com tudo o que o cerca será modificada. Por isso as ações afirmativas, inclusive a reserva de cotas nas universidades pública, são, apesar de um meio emergencial, de extrema urgência. Quero acreditar nas palavras da ministra quando diz que este governo tem um diferencial -que seria a eficácia da promoção de políticas públicas pela igualdade racial e que, assim, iremos escrever nova página na história pela liberdade. Que venha!"
Vilma Aparecida Rodrigues Feliciano
(São Paulo, SP)

Câmara
"Fiquei surpreso com o editorial "Casa infame" (Opinião, 27/1). Falo por todos os vereadores do PT que se sentem injustiçados pelas acusações generalizadas do texto. Seria correto se o jornal apontasse os nomes dos envolvidos quando fala em "relatos de corrupção e deterioração ética". Também não é certo que seja traçada uma visão nebulosa dos vereadores estando a atual legislatura há apenas um mês na Casa, num momento de estruturação parlamentar. Quanto à escolha do presidente da Câmara, esse processo é legítimo e democrático e não está relacionado àquilo que o jornal chama de "padrão fisiológico da vereança". Ao ler o texto, tem-se a impressão equivocada da atuação parlamentar. Por esta Casa passaram importantes decisões que também poderiam ter sido lembradas no editorial." Francisco Chagas, líder da bancada do PT na Câmara (São Paulo, SP)

Conselho de Segurança
"Bem lançado o comentário contido no texto "O Brasil pode orquestrar o mundo?", de Jorge Antunes ("Tendências/Debates", 27/1). De fato, será curioso colocar no Conselho de Segurança das Nações Unidas um país como o nosso, ainda afetado por subdesenvolvimento cultural evidente. Não há dúvida de que somos, por razões geopolíticas, a República em melhor condição de representar a América do Sul, entretanto melhor seria que cuidássemos da libertação de nosso povo antes de pensarmos em ser polícia da humanidade."
Luiz Antonio Sampaio Gouveia (São Paulo, SP)

Texto Anterior: Luiza Nagib Eluf: Tráfico de seres humanos

Próximo Texto: Erramos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.