São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Simpatia e deslumbramento

DAVOS - O jornal "O Globo" puxou para a capa, dias atrás, uma frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo a qual ele teria mudado a agenda de Davos.
Depois de voltar de sua primeira incursão aos Alpes suíços, em 2003, o presidente já havia declarado que fora o governante mais aplaudido de todos os tempos pelo público dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial. Não foi nem teria condições de saber se foi ou não, por motivos óbvios.
Esse tipo de arroubo retórico demonstra um deslumbramento que é sempre negativo, especialmente em governantes, mas que, no caso de Lula, é mais bobo ainda por absolutamente desnecessário.
Pode-se gostar ou não dele ou de suas políticas, pode-se lamentar ou criticar as gafes que vira e mexe comete, mas não dá para ignorar o fato de que o presidente tem um poder de despertar simpatias e emoções até em pessoas que jamais votaram e jamais votarão nele ou no PT.
É o estilo, talvez. Anteontem, depois de ter feito o seu discurso ao público de Davos, Lula saía do auditório quando o ministro Luiz Fernando Furlan correu para apresentar a ele a ministra de Comércio do Reino Unido, uma senhora elegante, discreta, vestida com a clássica sobriedade dos súditos da rainha.
Lula abraçou-a e lhe deu dois beijos no rosto como se estivesse reencontrando depois de anos uma velha companheira do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
A mulher de um importante executivo, antes de Lula começar o discurso, já foi avisando: "Não repara, mas eu vou chorar; sempre choro".
Você aí, que já ficou cínico ou odeia o presidente, vai dizer que ela chora de alegria porque, com a política econômica do governo Lula, o andar de cima fica feliz da vida. Não deixa de ser verdade, mas, no governo anterior, não era diferente e, no entanto, não puxava lágrimas -nem de emoção nem de felicidade.
Tudo somado, será que não há ninguém no Palácio do Planalto capaz de conter arroubos tolos?

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