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CLÓVIS ROSSI
Simpatia e deslumbramento
DAVOS - O jornal "O Globo" puxou
para a capa, dias atrás, uma frase do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
segundo a qual ele teria mudado a
agenda de Davos.
Depois de voltar de sua primeira incursão aos Alpes suíços, em 2003, o
presidente já havia declarado que fora o governante mais aplaudido de
todos os tempos pelo público dos encontros anuais do Fórum Econômico
Mundial. Não foi nem teria condições de saber se foi ou não, por motivos óbvios.
Esse tipo de arroubo retórico demonstra um deslumbramento que é
sempre negativo, especialmente em
governantes, mas que, no caso de Lula, é mais bobo ainda por absolutamente desnecessário.
Pode-se gostar ou não dele ou de
suas políticas, pode-se lamentar ou
criticar as gafes que vira e mexe comete, mas não dá para ignorar o fato
de que o presidente tem um poder de
despertar simpatias e emoções até em
pessoas que jamais votaram e jamais
votarão nele ou no PT.
É o estilo, talvez. Anteontem, depois
de ter feito o seu discurso ao público
de Davos, Lula saía do auditório
quando o ministro Luiz Fernando
Furlan correu para apresentar a ele a
ministra de Comércio do Reino Unido, uma senhora elegante, discreta,
vestida com a clássica sobriedade dos
súditos da rainha.
Lula abraçou-a e lhe deu dois beijos
no rosto como se estivesse reencontrando depois de anos uma velha
companheira do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.
A mulher de um importante executivo, antes de Lula começar o discurso, já foi avisando: "Não repara, mas
eu vou chorar; sempre choro".
Você aí, que já ficou cínico ou odeia
o presidente, vai dizer que ela chora
de alegria porque, com a política econômica do governo Lula, o andar de
cima fica feliz da vida. Não deixa de
ser verdade, mas, no governo anterior, não era diferente e, no entanto,
não puxava lágrimas -nem de emoção nem de felicidade.
Tudo somado, será que não há ninguém no Palácio do Planalto capaz
de conter arroubos tolos?
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