São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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RISCOS GLOBAIS

As baixas taxas de juros predominantes nas principais regiões industrializadas condicionaram no passado recente a retomada do crescimento mundial e a busca por ativos financeiros com maior rentabilidade, caso de títulos de mercados emergentes. O fluxo líqüido de capitais privados para os países emergentes atingiu US$ 279 bilhões em 2004, o maior volume desde a crise do Sudeste Asiático em 1997, de acordo com o Instituto de Finanças Internacionais, em Washington.
Os empréstimos e os lançamentos de títulos de dívidas, segundo a mesma fonte, saltaram de US$ 7,3 bilhões em 2002 para US$ 113,8 bilhões em 2004, demonstrando, mais uma vez, a natureza cíclica dos mercados financeiros internacionais. Expandem-se com as perspectivas otimistas de crescimento e se retraem com a deterioração das expectativas.
Em termos regionais, os fluxos de capitais privados revelaram-se bastante concentrados. Em 2004, os países asiáticos e do Leste Europeu receberam 87,3% do fluxo total; os latino-americanos, africanos e do Oriente Médio, 12,7%. O Instituto projetou a manutenção dessas tendências em 2005, apesar do movimento de elevação da taxa de juros nos EUA para 3,5% a 4% no final do ano e uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia global.
Para outros analistas, no entanto, os elevados fluxos de capitais para os países emergentes podem configurar a formação de uma nova "bolha de ativos". Esse foi um alerta que surgiu no Fórum Econômico Mundial, que se realiza em Davos, na Suíça. Como se sabe, bolhas dessa natureza, quando se rompem, geram turbulências no mercado financeiro internacional que podem afetar gravemente economias menos sólidas.
Por ora, o alto endividamento dos consumidores americanos restringe a possibilidade de movimentos abruptos de alta nas taxas de juros pelo Fed (banco central dos EUA), o que tende a favorecer os países em desenvolvimento. Além disso, o superávit nas contas correntes dos emergentes, que alcançou US$ 159,9 bilhões em 2004, segundo o Instituto, e o aumento das reservas, que foram ampliadas em US$ 376,6 bilhões, indicam uma redução na vulnerabilidade externa do conjunto desses países.
Resta para aqueles mais vulneráveis, como infelizmente é o caso do Brasil, persistir na estratégia de redução da dependência dos humores dos mercados financeiros globais, fortalecendo-se para enfrentar um ambiente externo que poderá se revelar menos favorável.

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