São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

República à moda da casa

SÃO PAULO - Sarney contra o sigilo dos orçamentos das obras da Copa e da Olimpíada? Logo ele, o guardião dos atos secretos do Senado? Parecia mesmo muito estranho.
A confusão está desfeita e as coisas voltaram aos padrões brasilienses de normalidade. Sarney recuou ontem das críticas que havia esboçado à medida provisória do governo. Não era uma questão de princípio, mas um mal-entendido. Tudo sanado depois de conversas esclarecedoras da cúpula do PMDB com Ideli Salvatti, a ministra do balcão.
Para que, afinal, insistir em encenar esse teatro da transparência, simular preocupação com a lisura do processo de licitação ou zelo pelo destino do dinheiro público? Para que tudo isso, quando se sabe que o governo -premido pelo pânico do fiasco em 2014- decidiu a apagar a luz e abrir no escuro a temporada de caça aos negócios?
Sarney, num primeiro momento, vislumbrou aí uma oportunidade para fazer média com a opinião pública -como se ensaiasse um contraponto ao seu extenso currículo, em especial ao escândalo de 2009, quando vieram à tona centenas de atos secretos pelos quais o Senado havia nomeado parentes e amigos de parlamentares, criado cargos e aumentado salários, tudo na moita.
O recuo de Sarney se deu antes que o governo admitisse alterar pontos do RDC (Regime Diferenciado de Contratação), ontem à noite. De acordo com as mudanças, os órgãos de fiscalização passariam a ter acesso permanente aos custos das obras e, além disso, haveria divulgação imediata dos orçamentos após os lances das empreiteiras. Se isso se confirmar, a margem para a picaretagem terá sido reduzida.
"O governo me assegurou que vai abrir aquilo tudo que acharmos necessário", disse Sarney. Se ele está tão tranquilo, temos uma razão a mais para não ficar.
O Senado tem até 14 de julho para analisar a MP, depois disso ela perde a validade. A data é simbólica. Nesse dia, a França estará comemorando o advento da República.


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