São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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Urgência, urgentíssima


ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Há pouco tempo, tive a oportunidade de participar de um evento dedicado a intensificar as medidas de prevenção dos acidentes e doenças do trabalho.
Os cálculos econômicos nesse campo são estarrecedores. Para cerca de 450 mil acidentes que ocorrem anualmente no Brasil, as empresas têm uma despesa de aproximadamente R$ 12,5 bilhões (contando os custos segurados e os não-segurados); os familiares dos acidentados ou lesionados bancam mais de R$ 2,5 bilhões (acomodando-os, tratando deles e perdendo horas de trabalho e renda); e o Estado, juntamente com as famílias, gasta estimativamente R$ 5 bilhões para acudir os que se acidentam e adoecem no mercado informal e nada contribuem para a formação do fundo previdenciário que garante o seguro aos acidentes do trabalho.
Em suma: teoricamente o número se aproxima de R$ 20 bilhões por ano! Uma verba colossal. Daria para gerar uns 500 mil empregos.
O mais grave é sofrimento das vítimas de acidentes e doenças profissionais. O Brasil não pode desperdiçar recursos dessa forma e muito menos dar as costas para o drama humano que decorre do desleixo e da desatenção.
É verdade que a solução de uma boa parte do problema depende da melhoria da educação dos trabalhadores e da sua conscientização. Mas, nesse terreno, entendo que a maior responsabilidade está com os empresários. Entram aqui as óbvias razões humanas e o indispensável cálculo econômico.
Nos dias atuais, os trabalhadores constituem o ativo mais precioso das empresas. Na medida em que a concorrência aumenta e a economia se globaliza, a importância do trabalho bem-feito, da eficiência e da produtividade é questão de vida ou morte para as empresas.
O novo ambiente econômico exige mão-de-obra cada vez mais qualificada e um clima da mais absoluta parceria entre empregados e empregadores. Demitir um bom empregado é desumano, oneroso e contraproducente.
A empresa que for recontratar esse empregado pagará caro e demorará um bom tempo para readaptá-lo às suas condições de trabalho. Descuidar de sua saúde e proteção geral -além de inadmissível em uma sociedade civilizada- constitui uma das maiores irracionalidades que o empresário pode cometer num momento em que a competitividade de sua empresa está sendo desafiada pela internacionalização da economia.
O Brasil precisa dar grandes passos em direção a uma mentalidade genuinamente prevencionista na qual as empresas venham a investir nas mais variadas formas de evitar acidentes e afastar as doenças profissionais como parte de sua responsabilidade social e como ingrediente da racionalidade que são exigidos pelas novas formas de produzir e vender.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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