|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
No caminho de Tebas
CARLOS HEITOR CONY
RIO DE JANEIRO - O título desta crônica ia ser ""a esquina errada". Desconfio que já fiz alguma coisa por aí
com esse título. E estou com preguiça
de verificar nos arquivos do notebook
se realmente seria uma repetição.
Vou em frente.
""No caminho de Tebas" é mais ou
menos a mesma coisa. Pelo menos
para Édipo. De certa forma, foi uma
esquina errada que ele dobrou na vida, quando decidiu consultar a esfinge. Talvez não houvesse esquinas no
tempo dele, mas o fato é que ele foi a
Tebas e se deu mal.
Foi nisso que pensei esses dias, lembrando todas as vezes em que quebrei
a cara, não da forma trágica do rei
Édipo, mas que, umas pelas outras,
deram no mesmo.
Nem precisei ir a Tebas para enfrentar a esfinge. Cada rosto que encontro é um segredo que eu tento decifrar e, feitas as contas, sinto que sou
devorado.
Semana passada, demorei-me em
São Paulo e ia perdendo um encontro
no Rio. Tive de pegar o avião em cima da hora, a moça do check-in me
marcou um vôo distante, caí na asneira de consultar aquela esfinge
uniformizada, se não havia um jeito
de me botar no próximo vôo.
Ela me olhou espantada, consultou
o terminal dela e disse que havia um
assento na cauda, mas eu teria de
voar pelos corredores do aeroporto,
do contrário não voaria naquele horário.
Não gostei do modo dela, do jeito
que me olhou. Parecia dizer: ""Olhe,
não force o destino, você vai se dar
mal, fique na sua e no outro vôo".
Bem, peguei o avião, nada me
aconteceu. Mas não esqueci o rosto
da moça desaprovando minha pressa, condenando minha urgência em
partir.
E assim tem sido o que acontece comigo. Ler errado não é o problema. O
problema é que, em vez de seguir a
minha estrada, estou sempre tomando o caminho de Tebas que me leva à
esfinge errada.
Texto Anterior: Bruxelas - Eliane Cantanhêde : Mercobras Próximo Texto: Antonio Ermírio de Moraes: Urgência, urgentíssima Índice
|