São Paulo, domingo, 28 de maio de 2000


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Mercobras


ELIANE CANTANHÊDE

BRUXELAS - Lamento informar, se é que você ainda não sabe, que aqui na Europa ninguém leva muito a sério essa história de Mercosul.
A França assume a presidência da União Européia, e o Brasil, a do Mercosul. Os dois presidentes se encontram no próximo fim-de-semana em Paris, e FHC promove uma reunião dos presidentes da América do Sul no mês que vem, em Brasília. A Europa torce para o Brasil assumir a liderança do continente, não só do Mercosul.
O governo francês e os escalões da UE até fazem referências positivas ao Mercosul e ao futuro livre comércio. Coisas da diplomacia.
Mas os grupos privados passam ao largo dessas gentilezas e vão direto ao que interessa: a América do Sul e o Brasil, particularmente. Tanto que 350 empresários franceses participam no Rio, de 18 a 20 junho, do fórum para os sul-americanos.
Na análise da burocracia da UE, a pedido e cercada de cuidados, a Argentina caiu na própria armadilha da paridade do peso com o dólar, o Paraguai é um vulcão de crises políticas e o Uruguai é uma espécie de peso morto. Nem produtor nem mercado.
Sobra o Brasil. Apesar de tudo, e dos miseráveis, é uma economia forte, tem riquezas naturais, conclui um processo poderoso de privatização e abriga 160 milhões de habitantes.
O grupo TotalFinalElf investe em projetos de gás e exploração de petróleo no Brasil. Na sua sede da futurística La Defense, mal se fala de Mercosul. Seus mapas de negócios e interesses, aliás, consideram apenas meio Brasil. Eles têm um pontinho em Ilhéus (BA) e outro em Belém. C'est ça. O Brasil é o sul, só o sul.
A avaliação é assim: o Brasil não usa trens, a idade média dos carros é de dez anos, contra seis na Europa; há 1 carro para cada 8 habitantes, contra 2,5 na Europa. Logo, é um mercado que tem tudo para crescer e gerar lucros para as multinacionais.
O Mercosul? Para eles, é uma abstração que anima os diplomatas e ajuda a UE a tirar a América do Sul do bico da águia. Aquela águia.



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