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Mercobras
ELIANE CANTANHÊDE
BRUXELAS - Lamento informar, se é que você ainda não sabe, que aqui na
Europa ninguém leva muito a sério
essa história de Mercosul.
A França assume a presidência da
União Européia, e o Brasil, a do Mercosul. Os dois presidentes se encontram no próximo fim-de-semana em
Paris, e FHC promove uma reunião
dos presidentes da América do Sul no
mês que vem, em Brasília. A Europa
torce para o Brasil assumir a liderança do continente, não só do Mercosul.
O governo francês e os escalões da
UE até fazem referências positivas ao
Mercosul e ao futuro livre comércio.
Coisas da diplomacia.
Mas os grupos privados passam ao
largo dessas gentilezas e vão direto ao
que interessa: a América do Sul e o
Brasil, particularmente. Tanto que
350 empresários franceses participam no Rio, de 18 a 20 junho, do fórum para os sul-americanos.
Na análise da burocracia da UE, a
pedido e cercada de cuidados, a Argentina caiu na própria armadilha
da paridade do peso com o dólar, o
Paraguai é um vulcão de crises políticas e o Uruguai é uma espécie de peso
morto. Nem produtor nem mercado.
Sobra o Brasil. Apesar de tudo, e
dos miseráveis, é uma economia forte, tem riquezas naturais, conclui um
processo poderoso de privatização e
abriga 160 milhões de habitantes.
O grupo TotalFinalElf investe em
projetos de gás e exploração de petróleo no Brasil. Na sua sede da futurística La Defense, mal se fala de Mercosul. Seus mapas de negócios e interesses, aliás, consideram apenas meio
Brasil. Eles têm um pontinho em
Ilhéus (BA) e outro em Belém. C'est
ça. O Brasil é o sul, só o sul.
A avaliação é assim: o Brasil não
usa trens, a idade média dos carros é
de dez anos, contra seis na Europa;
há 1 carro para cada 8 habitantes,
contra 2,5 na Europa. Logo, é um
mercado que tem tudo para crescer e
gerar lucros para as multinacionais.
O Mercosul? Para eles, é uma abstração que anima os diplomatas e
ajuda a UE a tirar a América do Sul
do bico da águia. Aquela águia.
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