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ARGENTINA EM CRISE
Pacotes fiscais, socorro do
FMI, reafirmação de compromissos com a estabilidade monetária. O roteiro da operação de salvamento do peso argentino, ora em
curso, tem todos os ingredientes de
uma crise cambial clássica.
Até o Mercosul, um projeto ainda
distante da consolidação, serviu como bóia importada para a âncora argentina. Há poucas semanas foi
anunciada a intenção de promover a
"convergência macroeconômica"
entre Brasil e Argentina.
Ao fazer a opção por uma taxa de
câmbio fixa e com plena conversibilidade entre pesos e dólares, o governo
argentino abriu mão do uso de colchões amortecedores entre os mercados domésticos e o mercado financeiro internacional. Assim,
quando cai a oferta de capitais para o
país, pelo aumento dos juros nos
EUA, ou quando aumenta a desconfiança quanto aos rumos de sua política econômica, não há saída senão
aceitar a imediata contração da atividade econômica interna.
Pior. Para tentar recuperar a confiança externa, o governo argentino
anuncia sucessivos pacotes de corte
de gastos e aumento de impostos. Isso apenas aprofunda ainda mais as
tendências recessivas e de fragilização das empresas do país.
O resultado prático é um círculo vicioso em que a recessão imposta de
fora leva a mais recessão gerada pela
política econômica doméstica. Os
riscos de insolvência de consumidores e empresas aumentam, jogando
por terra o próprio esforço de recuperação da confiança internacional.
A desvalorização do euro e a alta
dos juros nos EUA contribuem para
agravar o quadro, pois a Argentina,
em recessão, não tem como fazer das
exportações uma tábua de salvação.
Os investidores internacionais passam então a evitar o país.
O cenário político instável na América Latina cria mais dificuldades. Se
as agências de risco classificam individualmente os países, há também
uma percepção de riscos regionais.
Como se viu em outras crises, recentes, há uma espécie de contágio. O
risco latino-americano aumenta
com o risco argentino, e vice-versa.
É inevitável que o Brasil sinta os
efeitos dessa turbulência regional.
Se a Argentina abandonar o câmbio fixo, serão necessários no mínimo meses até que o país reconstrua
sua política econômica. Se houver
uma dolarização completa, o Mercosul se tornará inviável.
Nos dois casos, algum grau de contaminação afetaria a imagem do Brasil e da América Latina.
Parece portanto inevitável que aumente a incerteza, depois de quase
duas décadas de modelos econômicos centrados na estabilização monetária e no aumento da dependência financeira externa.
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