São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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PAINEL DO LEITOR

Rumos da marcha
"Longe de configurar golpismo, o passo firme da marcha a Brasília é um hino à democracia. O basta pode ser meio caminho andado para bloquear a desconstrução do país, reduzir a voracidade arrecadatória em cima do contribuinte sufocado, evitar a concorrência predatória, redirecionar a política contra os sanguessugas da saúde, da educação, da agricultura e de outras áreas, dignificar o trabalho como fonte de criatividade e sobrevivência e execrar os aproveitadores do poder, responsáveis pelo golpismo da reeleição. FHC e sua equipe colhem o que vêm plantando. Afinal, se estão governando contra o país, podem esperar o quê?"
Nildo Carlos Oliveira (São Paulo, SP)

"É um absurdo o que vem se falando contra FHC. Ele é, a rigor, o primeiro presidente que o país tem depois do ciclo militar. Sugerir que sua renúncia é a saída para a crise pela qual o país passa é de uma estupidez que beira a insanidade. Levantar o passado de FHC para afirmar que ele desdiz na prática o que dizia na teoria é querer que ele ficasse petrificado. Ele mudou, sim, e tinha de mudar. O mundo mudou, o país mudou. Vamos parar com esse negócio de renúncia. Se ele não resolve, nas próximas eleições o tiramos."
José Antonio Mariano (São Paulo, SP)

Posição sobre aborto

"Sou um assíduo leitor da Folha há anos. Desde 1994 acompanho os editoriais deste jornal sobre a questão do aborto, como o da edição de 21/8 (Opinião, pág. 1-2).
Milito há anos na defesa da descriminação do aborto em casos de anomalias fetais graves e incuráveis. Como membro do comitê de abortamento previsto em lei da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, tenho pautado nosso trabalho na defesa do atendimento às mulheres vítimas de violência sexual na rede pública de saúde.
Nenhum médico é favorável ao abortamento. É forçoso reconhecer entretanto que, em determinadas situações, ele é a única saída possível e deve ser contemplado com assistência médica exemplar."
Thomaz Rafael Gollop, diretor do Instituto de Medicina Fetal de São Paulo (São Paulo, SP)

"O editorial da Folha defendeu a prática do aborto em "ambiente limpo" autorizada por juiz federal numa menina de 10 anos, vítima de estupro.
Os argumentos da Folha não levam em conta, como de costume, a maior vítima no caso, que é um ser vivo que está sendo gerado e, diga-se de passagem, completamente sem culpa.
Ainda precisamos criar um "Código de Direito da Criança" que está por nascer e aguardar comprovação pela ciência de que a vida física é uma expressão acanhada da vida espiritual que floresce em todos nós."
Nubor Orlando Facure e Lourdes Gomes Facure, diretores do Instituto do Cérebro em Campinas (Campinas, SP)


Ministério Público

"Ao pretender analisar e criticar a diligência realizada pela força-tarefa na casa da vereadora Maria Helena, o articulista Luís Nassif, com absoluta infelicidade, afirmou expressamente que a invasão à casa da vereadora e a consequente ordem de prisão que lhe foi dada, por porte ilegal de armas de fogo, foi mais um lance dessa inacreditável escalada de arbítrio que toma conta do país, pois, ainda segundo o jornalista, realizou-se a apreensão das armas que nada tinham a ver com o objeto da investigação.
De fato, representantes da força-tarefa estiveram na casa da vereadora, mas não invadiram sua residência. Antes estiveram por várias horas no gabinete do juiz corregedor do Dipo e, após serena análise dos fatos até então investigados, o eminente magistrado expediu ordem de busca e apreensão para ser cumprido.
Lá chegamos ainda no período vespertino e durante a busca domiciliar encontramos vários documentos de interesse à investigação criminal, além de uma pessoa considerada funcionária pública fantasma que trabalhava na residência da vereadora como empregada, recebendo seu pagamento dos cofres públicos (mencionada funcionária foi sumariamente demitida da Prodam, dias depois da diligência).
Ocorre que, além dos documentos mencionados, foram encontradas várias armas de fogo. Todas eram guardadas criminosamente. Isto porque, nos termos da lei federal n� 9.437/97, "manter sob guarda armas de fogo, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar" caracteriza o crime previsto no artigo 10, caput.
Ora, como se vê, houve estrito cumprimento da lei. A diferença foi que, desta vez, em lugar do famigerado "ladrão de galinha", foi detida uma advogada -vereadora de São Paulo e, nessas situações, como sempre ocorre, vozes se insurgem.
Como afirmou em conclusão final do seu artigo, o Ministério Público tem papel relevante a desempenhar no país. E é com essa consciência que o nosso trabalho iniciou-se e prosseguirá sempre, mesmo que seja necessário atingir pessoas até então não incomodadas, ainda que continuemos sendo injustamente criticados de arbitrários e despreparados."
Arthur Pinto Lemos Junior, Gilberto Leme Marcos Garcia, José Carlos Guillem Blat, Marcelo Batlouni Mendroni e Roberto Porto, promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (São Paulo, SP)
Resposta do jornalista Luís Nassif - Os senhores fazem enorme carnaval, prendendo a torto e a direito, dando entrevistas, aparecendo em capas de revistas em atitude que choca pela ausência de recato. Na hora do trabalho duro, tiveram cinco processos rejeitados por insuficiência de provas -e esse foi o teor da crítica da coluna, que a carta não rebate. No episódio do bar Bodega, um valente procurador, em vez de se curvar ao clamor da mídia, mandou soltar um grupo de jovens favelados, injustamente presos, cumpriu seu dever sem aparecer uma só vez para a mídia. Sou mais ele.


Luxo na concentração

"Para quem até poucos dias atrás era mero coadjuvante, o treinador Oswaldo de Oliveira do Corinthians agora está "um nojo': hotel quatro estrelas faz com que ele se sinta rebaixado, exigindo hotel cinco estrelas, "pois o padrão do hotel influencia no desempenho do time". Será que na época do Pelé tinha hotel cinco estrelas?"
Eder Fernando Pedrazzi (Ibitinga, SP)

Poluição e rodízio
"O rodízio estadual de veículos, medida adotada na gestão de Fábio Feldmann na Secretaria de Estado do Meio Ambiente, acabou. Alegou-se renovação da frota, com a substituição dos carros antigos por veículos menos poluidores (só as montadoras é que não sabem que as vendas estão de vento em popa); alegou-se que previsões meteorológicas apontavam para condições favoráveis de dispersão dos poluentes durante o inverno, mas não combinaram isso com a natureza. O ardor nos olhos, a dor na garganta, a falta de ar e a tosse, o aumento da coriza, a maior procura por atendimento médico, entre outros problemas, mostram que foi feita uma avaliação incorreta do meio ambiente da região metropolitana. Apesar de paliativo, o rodízio foi a única clara tentativa de controlar a poluição atmosférica na região metropolitana."
Alfésio Luís Ferreira Braga, pesquisador visitante da Universidade Harvard (Boston, Massachusetts, EUA)



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