São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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Enem, um passaporte para o futuro


O exame indica a formação que se espera do ensino médio. E consolida a cultura da avaliação


PAULO RENATO SOUZA

Com satisfação verificamos que o número de inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cresce rapidamente. Na edição deste ano, no próximo domingo, 346.819 alunos farão a prova, 120% a mais do que no ano passado. O teste ocorrerá em 162 municípios, incluindo todas as capitais. Com sabedoria, os estudantes estão percebendo que o Enem é um importante aliado de sua formação educacional e profissional.
Criado pelo ministério em 1998, o exame é um sistema de avaliação destinado a alunos que estão concluindo ou já concluíram o ensino médio. Existe não para medir conhecimentos curriculares, mas sim para fotografar competências e habilidades desenvolvidas no ciclo básico. Seus resultados, privativos dos alunos, sinalizam as capacidades que possuem ou devem apurar para obter um melhor desempenho no ensino superior ou técnico, enfrentar o mundo do trabalho e resolver problemas do dia-a-dia do mundo moderno. Mostram, por exemplo, se são capazes de dominar linguagens, de entender fenômenos naturais e sociais, de solucionar problemas, de construir argumentos; se sabem aplicar os conhecimentos.
O Enem se afina com a reforma do ensino médio, que redefinirá currículos e priorizará a interdisciplinaridade e a aplicação prática dos conhecimentos. Corresponde também às tendências internacionais que ressaltam a necessidade da formação geral na educação básica. Como ocorre em outros países, o teste, que no Brasil tem características próprias, incita a recodificar o aprendizado dentro de uma filosofia que busca forjar cidadãos com autonomia intelectual, moral e social, aptos a vivenciar a democracia.
Objetivamente, o aluno é o grande beneficiário. Além de poder orientar-se por um seguro aferidor de potencialidades, ele pode hoje decidir utilizar o exame para facilitar seu acesso ao ensino superior ou disputar vagas no mercado de trabalho. Basta para isso que autorize o envio dos seus resultados a universidades e cursos pós-médios ou os remeta a empresas e outras instituições do mercado de trabalho, onde a receptividade ao teste deve crescer na proporção em que seja procurado.
Nesse sentido, vemos com regozijo que o exame se firma como referencial para ingresso na universidade no lugar do vestibular, cuja fórmula não nos parece ideal. No momento, 50 universidades utilizam o Enem como critério de ingresso, combinado ao vestibular. Uma, por enquanto, a Universidade do Grande ABC, faz uso dele como critério único. Trata-se de tremendo avanço, se pensarmos que em 1998 só quatro instituições utilizavam o exame.
No mundo do trabalho, a aceitação do Enem para a seleção de pessoal ainda é tímida, mas tende a aumentar, até porque estamos buscando expandi-la em contatos com entidades empresariais e sindicais.
O Enem é uma evolução em relação ao vestibular e uma credencial funcional importante porque oferece melhores condições de avaliar o jovem. Expressa sua totalidade, seu saber aplicável à vida, sua potencialidade para aprender, sua cognição para se relacionar com esse saber, adequá-lo e transformá-lo. Outro ganho importante é que incentiva a melhora do nível educacional nas escolas de ensino fundamental e médio. À medida que a aceitação do exame cresce nas universidades e no mercado de trabalho, os alunos e suas famílias tendem a exigir que elas aprimorem a oferta de ensino. As próprias escolas se sentem incentivadas a isso. O exame indica a formação que se espera hoje do ensino médio. E consolida a cultura da avaliação, indispensável para que alcancemos de fato a melhoria do ensino em favor das crianças e dos jovens brasileiros.


Paulo Renato Souza, 53, economista, é ministro da Educação. Foi reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) de 1986 a 90 e secretário da Educação do Estado de São Paulo (governo Montoro).



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