São Paulo, Sexta-feira, 27 de Agosto de 1999
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Tempo de perplexidade

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Milhares vão a Brasília porque não querem mais o presidente e seu governo. O presidente e seu governo fazem de conta que tudo aquilo -os milhares, suas faixas, seus cartazes, seus líderes e seus discursos- existe apenas relativamente.
São descontentes virtuais, digamos. Porque, para o presidente e seu governo, tudo está como deveria. Como no "Cândido", é o melhor dos mundos, porque o possível.
Como o presidente e seu governo garantem que estão fazendo tudo o que devem, o que essa gente toda quer com suas faixas, líderes, discursos etc.?
A capacidade desse governo de não enxergar as coisas tal e qual elas acontecem é exemplar.
Bem, o Brasil é exemplar em suas idiossincrasias, daí deve-se admitir uma certa coerência na incoerência governamental.
Exemplo? Que mais além de perplexidade há de surgir na cabeça do cidadão diante desse paradoxo: o índice do desemprego caiu porque há menos gente procurando emprego?
Veja bem: gente que desistiu de procurar, não gente que tenha encontrado o que fazer. Como o índice de desemprego oficial é calculado de acordo com o número de pessoas que estão em busca de trabalho num determinado período de tempo, e o número de pessoas nessa situação diminuiu, o índice de desemprego caiu também.
Só que não é nada disso o que está acontecendo. A realidade, dura e triste, exibe uma infinidade de pessoas que simplesmente desistiram, abandonaram a procura depois de tentar, em média, durante mais de 20 semanas, segundo os dados oficiais.
O que permite duas constatações, ainda uma vez paradoxais: 1) o brasileiro continua um perseverante e 2) a perseverança do brasileiro tem limite.



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