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Tempo de perplexidade
LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - Milhares vão a Brasília porque não querem mais o presidente e seu governo. O presidente e seu
governo fazem de conta que tudo
aquilo -os milhares, suas faixas, seus
cartazes, seus líderes e seus discursos- existe apenas relativamente.
São descontentes virtuais, digamos.
Porque, para o presidente e seu governo, tudo está como deveria. Como no
"Cândido", é o melhor dos mundos,
porque o possível.
Como o presidente e seu governo garantem que estão fazendo tudo o que
devem, o que essa gente toda quer com
suas faixas, líderes, discursos etc.?
A capacidade desse governo de não
enxergar as coisas tal e qual elas acontecem é exemplar.
Bem, o Brasil é exemplar em suas
idiossincrasias, daí deve-se admitir
uma certa coerência na incoerência
governamental.
Exemplo? Que mais além de perplexidade há de surgir na cabeça do cidadão diante desse paradoxo: o índice
do desemprego caiu porque há menos
gente procurando emprego?
Veja bem: gente que desistiu de procurar, não gente que tenha encontrado o que fazer. Como o índice de desemprego oficial é calculado de acordo
com o número de pessoas que estão em
busca de trabalho num determinado
período de tempo, e o número de pessoas nessa situação diminuiu, o índice
de desemprego caiu também.
Só que não é nada disso o que está
acontecendo. A realidade, dura e triste, exibe uma infinidade de pessoas
que simplesmente desistiram, abandonaram a procura depois de tentar,
em média, durante mais de 20 semanas, segundo os dados oficiais.
O que permite duas constatações,
ainda uma vez paradoxais: 1) o brasileiro continua um perseverante e 2) a
perseverança do brasileiro tem limite.
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