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Asilo? Onde?
ELIANE CANTANHÊDE
Caracas - Aqui de longe, assistindo
pela televisão, fiquei com a sensação
de que a "Marcha dos 100 mil", mesmo sem os 100 mil, foi um sucesso.
A contundência das imagens e o tom
das reportagens passavam a idéia de
que o país está num absoluto caos, e o
governo Fernando Henrique Cardoso,
por um fio.
Índios a caráter, velhinhos irados,
velhinhas divertidas, crianças nos ombros, um onda vermelha inundando a
Esplanada dos Ministérios.
Com o "povão" todo na rua, ladeado
por algo que parecia um batalhão inteiro de policiais civis, militares, prussianos e marcianos, entrava a voz solene de uma repórter venezuelana explicando que o movimento foi pela deposição de FHC.
"Tal a grave crise social, política e
econômica em que está mergulhado o
país", concluía, dramaticamente.
Dramaticamente, pensei, para "nosotros, los brasileños".
Num telefonema, um colega me informa: "Foi um sucesso!" No outro,
um amigo provoca: "E aí, já pediu
asilo diplomático?"
Virgem Santa! Vade retro!
Nada contra a manifestação, muito
pelo contrário. Se até o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira
(PSDB), já disse que esse tipo de movimento é absolutamente natural e democrático, quem sou eu para contestar?
Acho democratíssimo, fico orgulhosa e até senti uma ponta de inveja por
não estar lá, metida no meio da confusão, sentindo a ira, o cheiro e as exigências daquela gente toda.
Só uma ressalva: a situação do Brasil não é das melhores, mas nem por
isso FHC está caindo, o precipício engolindo a tudo e a todos. Antes de bater na improvável tecla brizolista da
renúncia, melhor batucar na tecla lulista: a guinada no modelo tem que
ser já, urgente.
A quem acha que aí está um inferno, sugiro um pulinho aqui na Venezuela, na Colômbia, nos vizinhos. Para ver o que é bom para a tosse.
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