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DEPOIS DA MARCHA
Muito barulho por nada seria uma
avaliação exagerada, mas não muito,
a respeito da atitude do governo sobre a manifestação de ontem em Brasília. O governo quis difundir a idéia
de que a marcha-protesto da oposição seria de cunho golpista, rótulo
que enfim se revelou apenas parte de
hábil e bem-sucedida estratégia de levar confusão às hostes adversárias.
No entanto, a marcha não foi politicamente infértil. Em parte da coalizão fernandina, o protesto parece ter
reforçado o sentimento de que é preciso demonstrar, de público ao menos, receptividade a reclamos da população, organizada ou não. Isto é,
passar a imagem de certo descolamento da ortodoxia econômica governista, ou pressionar o presidente
para que saque do fundo dos magros
cofres públicos ou da também magra
imaginação planaltina paliativo social de algum impacto.
Tal movimentação na base do presidente não é decerto nova e chegou
mesmo a ser caótica nas últimas semanas, o que provocou sismos no
mercado. Mas a perspectiva tanto da
eleição municipal de 2000 como de
mais manifestações de massa até o
fim do ano deve criar, dentro da coalizão governista, demanda maior de
sensibilidade social. Trata-se de
equação difícil de resolver, pois é ainda lenta a recuperação da economia e
a convalescença financeira do Estado
depende de rigorosa dieta ortodoxa.
A oposição, combalida e desbaratada nos primeiros anos de governo
Fernando Henrique Cardoso, ora parece crer que ganhou fôlego para proceder a protestos mensais, a começar
pelo "dia dos excluídos", manifestação que se arma para o 7 de setembro, o que talvez venha a ser reforçado por uma greve nacional a seguir.
Há o risco de que o descompasso
entre tal demanda social, no governismo e fora dele, e a impossibilidade
de ofertar bastantes lenitivos possa
ter como saldo mais conturbação política, sempre uma ameaça capaz de
solapar a recuperação econômica.
Além do equilíbrio fiscal, o governo
terá de demonstrar habilidade e criatividade para ao menos minorar seu
déficit de popularidade.
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