São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

É tempo de acordar

Entramos novamente no horário de verão. Na primeira semana de sua implantação, ouvi mais lamentos do que aplausos. É compreensível. O relógio biológico precisa de tempo para se ajustar.
O Brasil também precisa de tempo para gerar a energia que venha a sustentar o seu crescimento. As obras nesse setor são demoradas. Tudo correndo bem, a construção de uma usina elétrica leva de quatro a cinco anos. E pouco tem sido construído.
Mas esse tempo está se esvaindo. O novo apagão tem data marcada. Os otimistas prevêem falta de energia só em 2010. Os pessimistas acham que a eletricidade pode faltar a qualquer momento, basta a economia crescer mais de 5% ao ano.
Fico no meio dessas projeções. Penso que o problema ocorrerá em 2008. Baseio-me em estimativas do Operador Nacional do Sistema (ONS), que leva em conta um crescimento da demanda energética da ordem de 5% ao ano.
Ocorre que, nos últimos 3,5 anos, nenhuma usina hidrelétrica de grande porte entrou em operação. É uma tristeza assistir a um quadro como esse em um país continental que tem uma incontida fome de energia.
Muitos põem toda a fé nas usinas termelétricas. Mas essas enfrentam o problema da escassez de gás natural. O gasoduto Bolívia-Brasil pode ser ampliado para 30 milhões de metros cúbicos diários. Contando com os 12 milhões de metros cúbicos diários que virão da bacia de Santos a partir de 2008, a escassez continuará, pois as atuais usinas térmicas requerem mais 40 milhões de metros cúbicos de gás por dia.
As fontes alternativas de energia, como a biomassa (bagaço de cana-de-açúcar), podem ajudar, é verdade, e têm a vantagem de provocar pouca poluição. Mas elas também não têm condições para resolver o problema do país. É difícil conseguir economias de escala nesse terreno, mesmo porque as safras são oscilantes. O diesel pode acionar as usinas termelétricas. Entretanto esse energético custa cinco vezes mais do que o gás.
Não adianta rodear. No Brasil, a grande maioria da eletricidade tem origem hídrica. E temos muito a explorar nesse campo. Dispomos de muita água. E, ao contrário das usinas a carvão, petróleo ou gás, o custo de operação das hidrelétricas é muito baixo, com pouquíssima poluição.
Nos últimos anos, são Pedro tem colaborado para encher os reservatórios das atuais usinas hidrelétricas. Não podemos nos queixar. Ele está fazendo a sua parte. Compete a nós construirmos novas usinas.
Esse problema exige providências imediatas. Os leilões de energia futura, apesar de muito festejados, não são suficientes para garantir o abastecimento do país. O Brasil precisa construir aproximadamente uma usina de Tucuruí por ano para garantir o equilíbrio. E estamos muito longe disso. A inércia do presente é a condenação do futuro. Já é tempo de acordarmos.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


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