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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
É tempo de
acordar
Entramos novamente no horário
de verão. Na primeira semana de
sua implantação, ouvi mais lamentos
do que aplausos. É compreensível. O
relógio biológico precisa de tempo para se ajustar.
O Brasil também precisa de tempo
para gerar a energia que venha a sustentar o seu crescimento. As obras
nesse setor são demoradas. Tudo correndo bem, a construção de uma usina elétrica leva de quatro a cinco anos.
E pouco tem sido construído.
Mas esse tempo está se esvaindo. O
novo apagão tem data marcada. Os
otimistas prevêem falta de energia só
em 2010. Os pessimistas acham que a
eletricidade pode faltar a qualquer
momento, basta a economia crescer
mais de 5% ao ano.
Fico no meio dessas projeções. Penso que o problema ocorrerá em 2008.
Baseio-me em estimativas do Operador Nacional do Sistema (ONS), que
leva em conta um crescimento da demanda energética da ordem de 5% ao
ano.
Ocorre que, nos últimos 3,5 anos,
nenhuma usina hidrelétrica de grande
porte entrou em operação. É uma tristeza assistir a um quadro como esse
em um país continental que tem uma
incontida fome de energia.
Muitos põem toda a fé nas usinas
termelétricas. Mas essas enfrentam o
problema da escassez de gás natural.
O gasoduto Bolívia-Brasil pode ser
ampliado para 30 milhões de metros
cúbicos diários. Contando com os 12
milhões de metros cúbicos diários que
virão da bacia de Santos a partir de
2008, a escassez continuará, pois as
atuais usinas térmicas requerem mais
40 milhões de metros cúbicos de gás
por dia.
As fontes alternativas de energia, como a biomassa (bagaço de cana-de-açúcar), podem ajudar, é verdade, e
têm a vantagem de provocar pouca
poluição. Mas elas também não têm
condições para resolver o problema
do país. É difícil conseguir economias
de escala nesse terreno, mesmo porque as safras são oscilantes. O diesel
pode acionar as usinas termelétricas.
Entretanto esse energético custa cinco
vezes mais do que o gás.
Não adianta rodear. No Brasil, a
grande maioria da eletricidade tem
origem hídrica. E temos muito a explorar nesse campo. Dispomos de
muita água. E, ao contrário das usinas
a carvão, petróleo ou gás, o custo de
operação das hidrelétricas é muito
baixo, com pouquíssima poluição.
Nos últimos anos, são Pedro tem colaborado para encher os reservatórios
das atuais usinas hidrelétricas. Não
podemos nos queixar. Ele está fazendo a sua parte. Compete a nós construirmos novas usinas.
Esse problema exige providências
imediatas. Os leilões de energia futura,
apesar de muito festejados, não são
suficientes para garantir o abastecimento do país. O Brasil precisa construir aproximadamente uma usina de
Tucuruí por ano para garantir o equilíbrio. E estamos muito longe disso. A
inércia do presente é a condenação do
futuro. Já é tempo de acordarmos.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
@ - antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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