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CLÓVIS ROSSI
Patente de corso
SÃO PAULO - Saiu escondidinho, nesta Folha, a mais recente e escandalosa prova de que o mundo político
brasileiro partiu para a mais completa esculhambação.
Refiro-me à absolvição dos deputados estaduais de Rondônia, flagrados em vídeo gravado pelo governador quando tentavam chantageá-lo
em troca de apoio na Assembléia.
Crime comprovado. Uma deputada,
aliás, chega a dizer ao governador
que ele não iria mudar o mundo, em
cena explícita de cinismo e despudor.
Não obstante, foram todos absolvidos. Mas seria injusto culpar apenas
os deputados de Rondônia. Afinal,
em um país em que o próprio presidente da República, sob o foco permanente dos holofotes, se mostra leniente com o caixa dois, como imaginar que deputados de um Estado remoto se preocupem com o resgate da
moralidade pública?
O estado de decomposição das instituições chegou a tal ponto que os senadores do PT resolveram assinar
documento em que se comprometem
a só usar dinheiro limpo nas próximas campanhas eleitorais. Equivale
a dizer: doravante, seremos honestos,
como se honestidade precisasse de
atestado e não fosse ou devesse ser
característica fundadora da atividade pública.
Apesar do documento assinado, os
senadores do PT não mexem um dedinho para afastar os seus colegas
deputados pilhados no uso do caixa
dois (o crime já comprovado, fora
outros que caixa dois costuma esconder).
Não devem considerar a honestidade um bem tão importante, a não
ser para os outros, dos quais viviam
cobrando ética e limpeza.
É verdade que não foi o PT que inventou a corrupção. O mundo político brasileiro sempre foi podre. Mais
ou menos, é uma questão de percepção, como tal sujeita a interpretações
pessoais.
O horror está dado pelo fato de que,
no reinado do partido que se dizia
imaculado e puro, políticos corruptos
adquiram patente de corso, do que
dá prova o caso de Rondônia.
@ - crossi@uol.com.br
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