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Barriga cheia
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Uma das manias do
presidente da República é reclamar da
mídia, das entidades que representam
classes e, sobretudo, do Congresso Nacional. Ele se comporta como um prisioneiro, manietado pelas forças políticas.
Daí que suas declarações são como
se ele nada tivesse com o poder, fosse
apenas um cidadão irritado com as
coisas erradas de nossa vida pública.
Na verdade, nunca tivemos, em regime democrático, um presidente tão
centralizador como ele. E com poderes
que outros não tiveram -afora aqueles outros poderes que exerce por meio
de sua decantada ""persuasão", como
aquela em que persuadiu congressistas a aumentar o seu mandato. FHC é
recordista em assinar medidas provisórias.
Os números oficiais foram recentemente divulgados. Das 4.026 MPs assinadas pelos últimos presidentes, 3.223
levaram seu jamegão. Não cola o argumento de que ele governou mais
tempo do que Collor e Itamar. Governou menos do que Sarney, pelo menos
até agora.
Podemos dar de barato que metade
ou pouco mais dessas medidas tenham sido de rotina, prorrogando
prazos ou regras provisórias para tocar o expediente miúdo do governo.
Mas o conjunto revela que o presidente da República, mesmo em regime democrático, tem um poder que se equipara aos ditadores useiros e vezeiros
em baixar decretos-lei.
A questão é saber usar essa regalia
com moderação, em momentos de extrema necessidade administrativa.
Não é esse o caso de FHC. Por temperamento, por alucinado gosto pelo poder, ele se desaperta além da conta e
da conveniência.
Não aprecio estatísticas nem sou
bom nelas. Mas as 3.223 MPs que ele
assinou nos quatro anos e 11 meses de
seu mandato equivalem a duas por
dia -contando sábados, domingos e
dias santificados.
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