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O Estado apodreceu
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - É de perder o fôlego a sucessão de escândalos de diferentes naipes que ocupam as páginas dos jornais, uma após a outra, como se o noticiário policial, de repente, tivesse suplantado todos os demais.
Fica a nítida sensação de que o Estado brasileiro, do poder central ao municipal, apodreceu de vez. Aliás, o simples fato de que uma CPI que começou
de modo obscuro tenha sido capaz de
expor tamanhas mazelas é uma prova
da falência do Estado: todos os crimes
estavam lá. Era apenas uma questão
de investigá-los e puni-los.
Os chamados canais competentes
(as polícias e o sistema judicial) não o
fizeram em momento nenhum, como
já assinalou com a competência de
sempre a Eliane Cantanhêde.
É bom, de todo modo, pôr a coisa em
perspectiva, antes que alguém comece
a achar que foi a democracia que causou os estragos agora visíveis. Foi exatamente o contrário: a partir do momento em que agentes da repressão tiveram luz verde para torturar, matar
e mesmo roubar, à margem até das
leis draconianas do período militar,
instala-se a anarquia. É fácil para um
policial confundir a licença para torturar um "subversivo", sabidamente
um crime, com a licença para aderir
ao crime organizado, outra ilegalidade, embora diferente.
Culpas à parte, o equívoco que o presidente Fernando Henrique Cardoso e
alguns governadores eleitos em 1994
cometeram foi confundir a necessária
reforma do Estado com a mera contenção do déficit público. Era -e ainda é- necessário de fato conter o déficit, mas com uma finalidade: devolver
ao Estado a capacidade de fornecer segurança, educação, saúde etc.
O que se fez foi apenas punir o funcionalismo público, na ativa ou aposentado, sem tocar, em momento nenhum, na estrutura apodrecida do Estado brasileiro.
As consequências estão à vista de todos. Invertê-las é a tarefa principal de
qualquer presidente que se eleja em
2002. Se for possível.
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