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IMPUNIDADE NOS BANCOS
A impunidade no sistema financeiro é um fenômeno de mão dupla. É
mais um aspecto lamentável do relacionamento que, ao longo dos anos,
ficou estabelecido entre o Banco Central e as instituições financeiras: muita conivência, boa dose de promiscuidade e de falta de transparência.
Muitos supõem que não haja demérito na capacidade de as instituições
financeiras se esquivarem de regras.
Até certo ponto, essa percepção é
correta e oportuna. Muitas normas
caducam e é pela inovação que se
criam novas oportunidades de ganhos, em qualquer setor da economia. Nada mais corriqueiro que os
bancos apresentem seus pleitos diante das autoridades monetárias.
Mas às vezes a busca de brechas na
regulação descamba para a simples
contravenção ou mesmo para o crime. É quando o pleito se transforma
em corrupção ou suscita conivência
interessada. Não são poucos os funcionários que passaram de supervisores e reguladores do sistema financeiro para diretores muito bem pagos
de instituições financeiras.
Está aí parte da explicação não só
para a exasperante lentidão com que
se apuram delitos, mas também para
a alteração de regras, por iniciativa do
próprio governo, mudança que beneficia os que já foram indiciados e
mesmo multados. Como revela reportagem que esta Folha publica hoje, dez anos depois de fraudes cambiais, bancos e corretoras continuam
impunes e têm boas chances de escapar de punições significativas.
Fantasmas, laranjas e assinaturas
falsificadas foram utilizados por instituições pequenas e grandes, algumas já fechadas, outras ainda em
operação. Além da demora do governo na identificação dos problemas, a
elite política do país teve o cuidado de
ajustar as leis (inclusive por meio de
medida provisória) que regulam a
prescrição de ilícitos financeiros, para benefício dos infratores.
O valor das multas foi drasticamente reduzido. Desde 1962, as fraudes
cambiais eram passíveis de multas de
300% do valor da operação. Em
1994, o governo editou medida provisória permitindo a redução das multas, que podem agora variar entre
50% e 300%. Como sempre, já surgem propostas de formação de mais
um órgão para cuidar do assunto. O
presidente do Banco Central, Armínio Fraga, anunciou a criação de um
novo setor para combater atividades
ilegais, o Departamento de Combate
a Ilícitos Financeiros.
É muito possível que a medida seja
insuficiente. O BC, ao longo dos
anos, falhou e nada garante que a falta de um departamento interno seja a
origem do problema. Afinal, o governo, por vezes, legisla contra si mesmo. A não ser, claro, que se suponha
que os governantes, técnicos ou políticos, ocupem cargos públicos para
alimentar relações suspeitas com instituições e empresas dos quais possam eventualmente receber futuros
benefícios. Em poucas palavras, a
não ser que o sistema de supervisão
esteja moralmente comprometido,
incapaz de separar o pleito legítimo
da corrupção crônica.
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