São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Degradação política

BRASÍLIA - Os acontecimentos no Congresso desde o caso Waldomiro, há mais de um ano, indicam uma degradação crescente nas relações políticas entre o Palácio do Planalto e o Poder Legislativo. Ainda é impossível enxergar onde dará esse acelerado processo de falta de respeito mútuo. Coisa boa é que não será.
Com menos de dois anos e meio de mandato, Lula tem dois cadáveres insepultos entre seus 36 ministros (Romero Jucá e Henrique Meirelles), duas CPIs explosivas na bica para serem instaladas (a dos Correios e a dos Bingos, que trará Waldomiro Diniz para a ribalta) e uma base de apoio que assina pedidos de investigação contra si própria.
O esfacelamento do nível de debate dentro do Congresso pode ser medido pela insignificância de certos personagens em cargos relevantes. Fora do mundinho da política, poucos sabem dizer, por exemplo, o nome dos líderes de partidos como PMDB e PL na Câmara. São os famosos José Borba (PR) e Sandro Mabel (GO), respectivamente. Muitos dos 513 deputados se transformaram em radicais livres que não atendem a nenhum tipo de orientação.
Num café da manhã com Lula no Palácio do Planalto, no meio da semana, alguns líderes partidários levantavam-se da mesa para atender chamadas telefônicas em seus celulares. Mais do que uma falta de respeito, um sinal da sem-cerimônia com que as instituições da República se relacionam nestes tempos estranhos.
É certo que a economia do país continua em um nível de estabilidade ainda incomparável com épocas passadas -apesar da ortodoxia extremada do BC. Tem sido comum no Brasil a economia sustentar a política. A regra é quase planetária. O bordão "é a economia, estúpido" propagou-se dos EUA para o mundo.
Ocorre que, em alguns momentos, a crise política transborda e contamina a economia. Quando, e se, isso acontecer, será rápido e fulminante.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


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