São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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O bom velhinho

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - À margem do caso Sérgio Naya, que acompanhei superficialmente, fiquei impressionado com as manifestações de suas vítimas no episódio de sua prisão. Como sabemos, é ainda uma detenção provisória, da qual ele sairá mais cedo ou mais tarde.
Para isso, há um cipoal de leis e procedimentos jurídicos que livram a cara de qualquer criminoso, sobretudo se ele ganha mais de vinte salários mínimos.
Em Belo Horizonte, no ano passado, um rapaz foi morto por causa de uma namorada. O criminoso não passou um só dia na cadeia. Vai se doutorar agora, não sei se em medicina ou em direito. De tal maneira o inquérito policial foi propositadamente viciado, que só por milagre ele será condenado. E matou com frieza, com todos os agravantes da vilania humana.
Na certeza de que Naya não ficará preso por muito tempo, suas vítimas esperam que ele passe pelo menos o Natal atrás das grades. Já é alguma punição para uma sensibilidade normal. Digo isso porque já passei um Natal na prisão, tendo Joel Silveira como companheiro de cela. É duro.
Joel e eu colocamos na parede um desenho que saíra em página inteira do único jornal que nos deixavam ler. Era o Bom Velhinho. Olhar para ele foi o nosso Natal, a nossa festa. Como o crime que cometêramos não era infamante, até que o Bom Velhinho nos consolou.
Ignoro se o ex-deputado passará o Natal na cadeia. Pelo número de vítimas fatais que provocou, pelo número de pessoas que prejudicou, um Natal na prisão é pena pouca. É quase um castigo simbólico.
Mesmo assim, se não o soltarem antes, é justo que os interessados fiquem em vigília, impedindo que o Bom Velhinho, sob qualquer disfarce ou circunstância, faça companhia a um homem que desgraçou a vida de tanta gente. Nem isso ele merece.


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