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O bom velhinho
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - À margem do caso
Sérgio Naya, que acompanhei superficialmente, fiquei impressionado com
as manifestações de suas vítimas no
episódio de sua prisão. Como sabemos, é ainda uma detenção provisória, da qual ele sairá mais cedo ou
mais tarde.
Para isso, há um cipoal de leis e procedimentos jurídicos que livram a cara de qualquer criminoso, sobretudo
se ele ganha mais de vinte salários mínimos.
Em Belo Horizonte, no ano passado,
um rapaz foi morto por causa de uma
namorada. O criminoso não passou
um só dia na cadeia. Vai se doutorar
agora, não sei se em medicina ou em
direito. De tal maneira o inquérito policial foi propositadamente viciado,
que só por milagre ele será condenado.
E matou com frieza, com todos os
agravantes da vilania humana.
Na certeza de que Naya não ficará
preso por muito tempo, suas vítimas
esperam que ele passe pelo menos o
Natal atrás das grades. Já é alguma
punição para uma sensibilidade normal. Digo isso porque já passei um Natal na prisão, tendo Joel Silveira como
companheiro de cela. É duro.
Joel e eu colocamos na parede um
desenho que saíra em página inteira
do único jornal que nos deixavam ler.
Era o Bom Velhinho. Olhar para ele
foi o nosso Natal, a nossa festa. Como
o crime que cometêramos não era infamante, até que o Bom Velhinho nos
consolou.
Ignoro se o ex-deputado passará o
Natal na cadeia. Pelo número de vítimas fatais que provocou, pelo número
de pessoas que prejudicou, um Natal
na prisão é pena pouca. É quase um
castigo simbólico.
Mesmo assim, se não o soltarem antes, é justo que os interessados fiquem
em vigília, impedindo que o Bom Velhinho, sob qualquer disfarce ou circunstância, faça companhia a um homem que desgraçou a vida de tanta
gente. Nem isso ele merece.
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