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Diversão garantida
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Está nas livrarias "Sérgio
Motta - O Trator em Ação" (449
págs.), da boa editora Geração Editorial. É uma biografia autorizada, laudatória ao extremo. Mas não é só isso.
Apesar de incensar Sérgio Motta, seguindo uma tradição secular de
transformar os mortos em santos, o livro é utilíssimo para entender um
pouco mais a psique tucana.
O primeiro ensinamento está logo
no início: "Existe, hoje, no Brasil um
razoável consenso de que, se (...) os pobres têm acesso aos celulares, isso se
deve ao ex-ministro Sérgio Motta".
A afirmação, de tão disparatada,
dispensa comentários.
Mais adiante, outra pérola: "Era até
compreensível que, mesmo reconhecendo que a folha corrida dos novos
governantes fazia a diferença, a imprensa quisesse ficar de olho".
"Compreensível" como? É o dever
da imprensa ficar de olho.
Essa afirmação sobre a imprensa é
um ato falho perfeito, no sentido freudiano, pois revela um traço forte da
personalidade de quem fez o livro.
"Sérgio Motta - O Trator em Ação"
foi preparado por dois assessores e
amigos do biografado. Um jornalista
foi contratado para escrever o texto
em português.
Os tucanos pensam assim. Sentem-se seres superiores, acima do bem e do
mal. Estão numa missão para salvar o
Brasil. E a imprensa faria muito bem
se percebesse o "processo" pelo qual
passa o país.
Uma das fases do "processo" foi a
compra de votos a favor da emenda
da reeleição, que teve em Sérgio Motta
um de seus pontas-de-lança. O livro
nada acrescenta ao caso.
Aliás, confunde as coisas ao errar
até informações prosaicas como o número de deputados que perdeu o
mandato na compra de votos. O livro
cita duas perdas de mandato e três renúncias (pág. 236). Na realidade, dois
renunciaram e ninguém foi cassado.
Ainda assim, vale a pena ler "Sérgio
Motta - O Trator em Ação". É o jeito
tucano de contar histórias: erros factuais e interpretações ingênuas. É divertido.
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