São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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Diversão garantida

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Está nas livrarias "Sérgio Motta - O Trator em Ação" (449 págs.), da boa editora Geração Editorial. É uma biografia autorizada, laudatória ao extremo. Mas não é só isso.
Apesar de incensar Sérgio Motta, seguindo uma tradição secular de transformar os mortos em santos, o livro é utilíssimo para entender um pouco mais a psique tucana.
O primeiro ensinamento está logo no início: "Existe, hoje, no Brasil um razoável consenso de que, se (...) os pobres têm acesso aos celulares, isso se deve ao ex-ministro Sérgio Motta".
A afirmação, de tão disparatada, dispensa comentários.
Mais adiante, outra pérola: "Era até compreensível que, mesmo reconhecendo que a folha corrida dos novos governantes fazia a diferença, a imprensa quisesse ficar de olho".
"Compreensível" como? É o dever da imprensa ficar de olho.
Essa afirmação sobre a imprensa é um ato falho perfeito, no sentido freudiano, pois revela um traço forte da personalidade de quem fez o livro.
"Sérgio Motta - O Trator em Ação" foi preparado por dois assessores e amigos do biografado. Um jornalista foi contratado para escrever o texto em português.
Os tucanos pensam assim. Sentem-se seres superiores, acima do bem e do mal. Estão numa missão para salvar o Brasil. E a imprensa faria muito bem se percebesse o "processo" pelo qual passa o país.
Uma das fases do "processo" foi a compra de votos a favor da emenda da reeleição, que teve em Sérgio Motta um de seus pontas-de-lança. O livro nada acrescenta ao caso.
Aliás, confunde as coisas ao errar até informações prosaicas como o número de deputados que perdeu o mandato na compra de votos. O livro cita duas perdas de mandato e três renúncias (pág. 236). Na realidade, dois renunciaram e ninguém foi cassado.
Ainda assim, vale a pena ler "Sérgio Motta - O Trator em Ação". É o jeito tucano de contar histórias: erros factuais e interpretações ingênuas. É divertido.



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