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Sonho
JOSIAS DE SOUZA
São Paulo - A prisão de PC Farias foi
vista à época como exceção à regra.
Até então, acima de um certo nível de
renda, os crimes costumavam dar em
nada.
O exílio en$olarado de Collor em
Miami logo recolocaria o vagão da
impunidade brasileira nos trilhos.
Bem verdade que Collor, além de perder a presidência, foi condenado a viver para sempre ao lado de Rosane.
Mas, no seu caso, tudo parece muito
pouco.
Pilhados em seguida, os anões do orçamento reforçaram a impressão de
que o fim reservado a PC não passara
de uma incongruência momentânea.
Cassaram-se alguns mandatos. Mas
ninguém foi parar atrás das grades.
Algumas CPIs, como a dos empreiteiros, foram abatidas em pleno vôo.
Outras, como a da compra de votos em
favor da reeleição de FHC, nem chegaram a bater asas.
Agora, o país parece ter sido engolfado por uma onda de desrespeito à tradição do crime sem castigo. Aqui e ali,
prendem-se prefeitos, vereadores, deputados... Até o Sérgio Naya foi em cana. É como se as perversões da elite começassem a gerar consequências.
Ainda não alcançamos o patamar
dos países onde o criminoso graúdo,
quando pego, expia suas culpas em
dramáticos gestos de contrição -do
pedido de desculpas ao suicídio; às vezes diante das câmeras. Mas algo de
novo parece mesmo estar acontecendo
no Brasil.
Se a coisa for adiante, logo teremos
novas razões para preocupação. Sim,
porque é improvável que o país venha
a ser varrido por uma epidemia de
probidade. E nossas cadeias, pelo que
se conhece delas, não estão preparadas para a revolução que se avizinha.
Antevejo a cena: rebelada, a ala nobre dos presídios exigirá suítes individuais e melhoria do cardápio. Batendo os talheres sobre a mesa, os neodetentos gritarão em coro: "Ar, ar, ar, cadê o caviar!" Em resposta, os carcereiros lhes darão uma banana.
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