São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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JOGOS DE SANGUE

Com três ou quatro toques no no teclado e no "mouse" de um microcomputador é possível obter uma cópia de "Mortal Kombat", um dos seis jogos eletrônicos cuja venda acaba de ser proibida por uma portaria do Ministério da Justiça. Para conseguir, por meio da Internet, os outros cinco, a dificuldade não é maior, mesmo para jovens e crianças -ou principalmente para eles, tão à vontade com inovações tecnológicas.
Por aí já se vê que a medida, que atendeu a uma decisão de uma juíza federal de Belo Horizonte, é inócua. Se a Polícia Federal conseguir cumprir a tarefa de impedir que lojas comercializem esses jogos eletrônicos, eles ainda poderão ser adquiridos no fluido comércio informal, muito mais difícil de fiscalizar.
Suponha-se ainda que, por meio de um esforço conjunto até hoje desconhecido entre prefeituras, Receita Federal e polícia, se consiga debelar a venda de cópias -geralmente ilegais- desses jogos nas bancas do comércio ambulante. Ainda assim restará, como foi visto, o comércio pela Internet, ao qual as autoridades fiscalizadoras brasileiras têm acesso apenas parcial, pois muitas dessas lojas virtuais têm sede no exterior.
Discuta-se também a motivação que levou a juíza de Belo Horizonte a decidir pela proibição da venda desses produtos. O argumento é que esses jogos -em que se mata, na tela, com exacerbada crueldade e violência- prejudicam a formação das crianças. Além de ser uma influência controversa e muito difícil de provar, a proibição dos jogos traz uma dúvida: serão só esses jogos os perniciosos entre os muitos existentes?
A proibição, como se vê, não resolve o problema que pretende atacar. Há outras sociedades muito menos violentas em que esse tipo de jogo é disseminado. Acordos de auto-regulação entre fabricantes e informações sobre a faixa etária para a qual cada jogo é recomendado ajudam, mas o papel de proibir ou selecionar ao que as crianças têm acesso é fundamentalmente da família.


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