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MISÉRIA, ÁGUA E ESGOTO
O soro caseiro, uma mistura de proporções de água, açúcar e sal, é comumente prescrito em especial nas
regiões mais pobres do país para evitar a morte por desidratação de crianças com diarréia. Mas a utilização da
água contaminada no preparado caseiro, muitas vezes a única disponível
nesses lugares miseráveis, acaba por
estimular a proliferação do mal que o
soro pretendia combater.
Nesse exemplo corriqueiro vê-se
como o acesso a condições sanitárias
básicas, água potável encanada e rede
de esgoto é fundamental para melhorar a africana taxa de mortalidade infantil brasileira, tragédia recém-enfatizada pelo Unicef, órgão das Nações
Unidas para a infância. Nem se fale
de outros benefícios sociais da universalização do saneamento básico,
como a melhoria das condições gerais de saúde, que influi positivamente na expectativa de vida.
Segundo a mais recente Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
do IBGE, quase oito em cada dez moradias no Brasil são abastecidas por
rede de água e 64% dos domicílios
têm esgotos adequados. Embora o
crescimento da cobertura sanitária
esteja aquém do desejável, os números, quando se considera o conjunto
do país, não são de todo ruins.
Desdobradas, no entanto, essas cifras mostram como as áreas e as faixas de renda mais desassistidas pelo
saneamento básico são aquelas em
que o problema da mortalidade infantil é mais agudo. Na zona rural
brasileira, apenas 22% das residências são ligadas à rede de água. Essa
proporção é ainda menor para domicílios em que seus moradores possuem baixa renda e em regiões como
o Norte e o Nordeste. Existem locais
da zona rural nordestina, por exemplo, com os mais altos índices de
mortalidade infantil.
É, portanto, desanimadora a notícia, divulgada por esta Folha, de que
o governo aplicou apenas 6% do previsto no Orçamento com saneamento básico neste ano. Como no caso da
água suja no soro caseiro, prejudica-se pelo lado do parco investimento
no saneamento o que se faz pelo lado
dos programas de assistência social.
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