São Paulo, Segunda-feira, 20 de Dezembro de 1999


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MISÉRIA, ÁGUA E ESGOTO

O soro caseiro, uma mistura de proporções de água, açúcar e sal, é comumente prescrito em especial nas regiões mais pobres do país para evitar a morte por desidratação de crianças com diarréia. Mas a utilização da água contaminada no preparado caseiro, muitas vezes a única disponível nesses lugares miseráveis, acaba por estimular a proliferação do mal que o soro pretendia combater.
Nesse exemplo corriqueiro vê-se como o acesso a condições sanitárias básicas, água potável encanada e rede de esgoto é fundamental para melhorar a africana taxa de mortalidade infantil brasileira, tragédia recém-enfatizada pelo Unicef, órgão das Nações Unidas para a infância. Nem se fale de outros benefícios sociais da universalização do saneamento básico, como a melhoria das condições gerais de saúde, que influi positivamente na expectativa de vida.
Segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, quase oito em cada dez moradias no Brasil são abastecidas por rede de água e 64% dos domicílios têm esgotos adequados. Embora o crescimento da cobertura sanitária esteja aquém do desejável, os números, quando se considera o conjunto do país, não são de todo ruins.
Desdobradas, no entanto, essas cifras mostram como as áreas e as faixas de renda mais desassistidas pelo saneamento básico são aquelas em que o problema da mortalidade infantil é mais agudo. Na zona rural brasileira, apenas 22% das residências são ligadas à rede de água. Essa proporção é ainda menor para domicílios em que seus moradores possuem baixa renda e em regiões como o Norte e o Nordeste. Existem locais da zona rural nordestina, por exemplo, com os mais altos índices de mortalidade infantil.
É, portanto, desanimadora a notícia, divulgada por esta Folha, de que o governo aplicou apenas 6% do previsto no Orçamento com saneamento básico neste ano. Como no caso da água suja no soro caseiro, prejudica-se pelo lado do parco investimento no saneamento o que se faz pelo lado dos programas de assistência social.


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