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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O resultado
de um fracasso
O tempo de acertar passou. O
tempo de alertar se foi. O tempo
de lamentar acabou. Chegou a hora de
cuidar das feridas. O problema está
colocado. O Brasil não tem energia para permitir que seu povo cresça.
A leviandade da inércia passada nos
faz comparecer perante o mundo como um país rico gerenciado por gente
que submete seu povo à pobreza crônica. Um vexame!
Para os espertos e demagogos, esta é
a hora de explorar o infortúnio e de
abrir suas caixas de ilusões. Para os
patriotas, que produzem e trabalham,
é hora de buscar a solução. A nação está sendo chamada a mais um sacrifício.
É impossível distribuir migalhas
sem dor. A fórmula definida pelo governo está dentro dessa regra. Só que,
neste caso, todos gritam e todos têm
razão, pois a catástrofe poderia ter sido evitada.
O plano é duro. Serão punidas as famílias e as empresas que mais gastam
eletricidade. Para os domicílios modestos, há a alternativa de manter-se
dentro dos 100 kWh mensais e até de
ganhar um bônus. Os de maior porte
nada sofrerão se cumprirem as metas
estabelecidas, mas pagarão pesadas
sobretaxas se as ultrapassarem, cortando-se, assim, o poder de compra
da classe média. Aos ricos, é uma
oportunidade histórica para trocar excedentes por solidariedade.
Para as empresas, o mecanismo é diferente. As que cumprirem as metas
terão aumento de custo proporcional
ao corte de energia. As que superarem
as metas pagarão o excedente a preços
do Mercado Atacadista de Energia
-o MAE-, que são exorbitantes,
cerca de 500% do preço normal.
Ou seja, a Câmara de Gestão da Crise
de Energia Elétrica transformou o
MAE numa câmara mortuária. Pouquíssimas empresas terão condições
de pagar energia a tal preço.
Há exceções, é claro. Algumas empresas poderão interessar-se por vender energia ao preço do MAE, deixando de lado a sua vocação original de
produzir e de gerar empregos. O que,
para a maioria, será um castigo, para
elas, poderá tornar-se um atraente
cassino de especulação. Mas, como
em todo cassino, alguns ficarão com o
mico. Azar deles!
No curto prazo, a situação do setor
empresarial está definida. Para obedecer às metas (ou especular com energia), as empresas terão de cortar parte
da produção, com a conhecida perversidade sobre o emprego, a inflação,
as exportações, a balança de pagamentos, as dívidas públicas e as taxas
de juros.
No médio prazo, algumas conseguirão readaptar seus equipamentos de
forma a utilizar outras fontes de energia. Mas isso, além de ser demorado e
caro, nem sempre é viável, em especial
quando se combina redução de produção com redução de vendas.
Como julgar o plano? Ruim, muito
ruim. Qual seria melhor? Nenhum. A
energia mais cara é a que não existe. O
Brasil terá de pôr um pé no freio. Entramos num tempo de enorme sacrifício e de etapas dolorosas. O importante é vencer cada uma delas para, no
fim, espantar de vez o funesto fantasma da irresponsabilidade, esperando
que nunca mais apareça.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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